Mostrando postagens com marcador maldito. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador maldito. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

SHEILA X

O que Sheila tem de atraente, tem em dobro de barra-pesada. Ela diz ser oito ou oitenta, eu diria que ela é oito ou oitocentos. É sério. Não é exagero. Sheila X é fã da Malcolm X, chegou até a pintar um X bem grande numa camiseta que não trocava nunca, essa fase durou certo tempo, mas o apelido acabou ficando. Depois de um tempo, ela passou a contar que o apelido vinha da sua mania de ler história em quadrinhos, X-Men e todas essas coisas da Marvel e DC. Entre essas fases, Sheila costumava sumir por uns tempos, no começo circulava todo o tipo de boato quando ela não estava por perto, diziam que estava na Itália ou na cadeia, que se tratava de alguma doença ou mesmo que tinha morrido. E do nada reaparecia. Claro que andou brincando certo tempo com a morte, uns cinco ou seis meses, talvez. Depois disso, Dill – o tal ex-namorado, amanheceu morto numa manhã de domingo, o corpo foi encontrado ao lado dos ratos, na saída de um cano de esgoto, a boca cheia de formiga – Tinha tanta formiga que pensaram que o sangue fosse catchup – Sheila gostava de contar entre amigos e ria de não se conter – Imagina que aquele estúpido seria capaz de uma coisa dessas? Nem de dar risada ele gostava – depois já mudava de assunto e saía procurando alguma revista de horóscopo do outro lado do balcão do bar, trocava o cigarro de mão, corria até o banheiro, voltava depois de uns minutos, parecendo meio afobada, querendo ir nesse ou naquele lugar, geralmente do outro lado da cidade, insistindo todo o tempo naquilo, insistindo, insistindo, e as pessoas às vezes não tinham muita paciência. A verdade é que Sheila nunca ficou legal quando cheirava. O negócio dela é álcool, uísque com Red Bull, e só, no máximo uns baseados bem de vez em quando. Depois que começou a usar pó direito, passou a odiar os gays e travestis, se bem que por intermédio deles tenha ficado amiga do Plasil e sua turma, uma gangue de escatológicos virados na efedrina – ela contava sobre a vez em que quase matou um traveco atirando garrafas na sua direção ou de altas tretas com gangues de lésbicas – Só não gosto muito dos ratos, na maior parte das vezes, ratos são um problema – Fora isso se não tiver a cara muito deformada ou um pau que ejacula ácido – Sheila tinha uma coleção de armas em casa, e todas viviam carregadas – Quando tava louca de efedrina dava tiros de 22 mirando uma garrafa em cima da mesa, eu ficava no outro canto, na parede oposta a uns 8 metros de distância, de qualquer forma não era um troço fácil de se conseguir, por isso as paredes estão todas furadas – e uns caras paravam às vezes e metiam o pau por aqueles orifícios e Sheila chupava cada um deles por dinheiro, depois perdia todo o dinheiro em apostas. Foi sempre assim. Desde que ela chegou por aqui. De onde veio ninguém sabe. É meio árabe ou índia, meio africana e talvez um pouco européia também. Sheila é uma junção de muitas mulheres. E ela palita os dentes com a ponta de uma faca e depois atira aquela faca contra a parede e ela fica lá espetada, balançando um pouco até que para. Nisso Sheila já pulou pela janela e agora está lá fora abençoando os grilos e os deuses da chuva – Ei, Sheila, que tal darmos uma volta? - Ontem mesmo ela apareceu, trazia uns discos debaixo do braço: Extreme Noise Terror, Sore Throat, Napalm Death – todas essas podreiras, depois um pouco de Madonna, de Ana Carolina, não se importa com cinzeiros, deixa que as cinzas do cigarro caiam pelo chão – Desse jeito ela ainda acaba queimando todo o estofamento, e finalmente dá o fora, leva um Smiths e o maço com uns oito cigarros dentro, vai brincar com foto noutro canto. Na semana seguinte ela liga – Acho que esqueci alguma coisa na sua casa – mas dou uma procurada rápida com os olhos e não encontrando nada tento mudar de assunto, não adianta: - Estou indo ai – e bate o telefone na minha cara. Depois de duas horas aparece, toda ensopada, a maior chuva lá fora. Abro a porta e deixo que entre achando que é apenas pretexto. Depois disso circulamos um tempo por ali, pela sala, ela apanha uns discos, cantarola baixinho uma música que não entendo – Animals – talvez, canta sobre uma garota, depois fala sobre o filme dos X-Men e enquanto descreve as diferenças entre o cinema e os quadrinhos, abaixamos procurando alguma coisa perdida pelo chão – O quê é? – pergunto depois de um tempo – Uma ponta – responde sem prestar muita atenção – depois de cinco minutos canso daquilo vou para o quarto e trago um baseado pronto para ela – Fica com esse – mas acabamos fumando juntos e terminamos nossa noite bem no meio da sala, duas garrafas de vinho e becks bolivarianos pelos tacos soltos do assoalho, e a janela aberta, a luz dos postes iluminando parte do chão da sala a outra metade envolta na maior escuridão. E antes que amanheça, ela apanha as roupas, a bolsa e dá o fora como se estivesse arrependida. Depois liga. Diz que anda meio confusa. E enquanto fala, ainda do chão da sala, espreito sem querer numa fresta embaixo do sofá na direção de alguma coisa de que certamente já ouvi falar e então encontro aquela imensa ponta nunca antes encontrada. Que pretexto, que nada. Apanho o telefone outra vez, ela fala sem parar, como será que respira? – Alô Sheila?

terça-feira, 20 de julho de 2010

O TRISTE FIM DE JOÃO HENRY

João Henry não tinha nada para fazer naquele dia e a tarde escorria feito manteiga derretida pelas vidraças da vida. João Henry não tinha nada para fazer naquele dia nem em qualquer outro dia. João Henry era um fodido-desocupado, um nerd cujo computador danificado encerrava miríades de possibilidades mais inteiras, mais belas do que aquela – Pobre aquarela – pensou João – Pobre aquarela essa que mais parece tinta derretida que a chuva pinta nas vidraças encardidas. Por uma fresta respingos minúsculos rebatiam ainda em capas de livros: Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas. João Henry soltou um demorado bocejo e sua boca ficou aberta, paralisada - à espera dos mosquitos.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

DORIANA

Doriana tem apenas oito anos de idade e então você se pergunta, que diabos uma menina de oito anos sabe a respeito da vida? Bem, meu caro, Doriana certamente sabe de muitas coisas, a primeira delas que, aliás, é por onde começa essa estória é que a menina sabe que para ir até a casa de sua avó ela tem que pegar o ônibus 604 e não o 619, mas esse é apenas um pequeno e quase inútil exemplo, Doriana conhece uma porção de outras coisas.
- Para onde vai minha jovem?
- Para a casa da minha avó.
- Qual o seu nome?
- Doriana e o seu?
- Jesus.
- Jesus Cristo?
- Não, Jesus Andaluz.
- Quer um pedaço de bolo Jesus Andaluz? – a menina então pergunta abrindo a tampa de uma enorme cesta de vime que trazia no colo.
- Isso deve estar uma delicia, é claro que quero.
- Toma, fica com esse maior – estende um pedaço grande de bolo todo enrolado em papel alumínio.
- A propósito minha jovenzinha, você por acaso não quer dar um pulo até a minha casa, tenho adoráveis brinquedos por lá.
- Bem que eu gostaria, mas hoje não posso e além do mais a casa da minha avó é logo ali – a menina responde tocando a campainha do ônibus – De qualquer maneira, obrigada pelo convite e até outro dia.
- Até outro dia docinho, obrigado pelo bolo.

Doriana chega na casa de sua avó, um apartamento de quatro andares na Vila Mariana, carrega a cesta com os pedaços de bolo cuidadosamente cortados em cubos enrolados em papel alumínio. Chama a velha pelo interfone que pacientemente desce seis lances de escada e quando abre a porta Doriana prontamente lhe estende os bracinhos envolvendo-a num abraço e beijinhos de chocolate estalados.
As duas sobem as escadas e no caminho Doriana presenteia sua avó com um pedaço de bolo enquanto conta sobre coisas que tem aprendido na escola.
- Para que servem óculos tão grandes vovozinha? – a menina aponta para a escrivaninha já dentro do apartamento.
- Para enxergar melhor – a velha responde cuspindo pedaços de bolo no tapete da sala.
- Enxergar coisas pequenas?
- Não, para enxergar coisas grandes, bem grandes, quer ver só uma coisa? – a velha puxa Doriana pelo braço, as duas cruzam o pequeno cômodo até a janela.
- Veja só que maravilha.
- O quê é isso vovozinha?
- Um binóculo.
- O quê a senhora está vendo nele?
Doriana então apanha o binóculo e olhando através das lentes consegue ver as janelas dos apartamentos vizinhos e o que acontece dentro de cada cômodo desconhecido.
- Então é isso que a senhora enxerga.
- Isso mesmo, a vida dos outros, não é incrível?
Doriana, no entanto, da de ombros demonstrando pouco interesse.
A velha entusiasmada corre até a cesta de bolo e começa a revirá-la tentando encontrar o maior pedaço de todos, mal reparando o desanimo em sua neta.
- Vó?
- O quê é?
- Tinha um homem estranho dentro do ônibus quando vim para cá.
- Estranho? Como assim?
- Não sei, tinha orelhas enormes e dentes pontiagudos, acho que vai morrer muito em breve.
- E como é que você sabe que ele vai morrer muito em breve?
- É por causa do bolo, ele comeu um pedaço inteiro.
- E o quê tem isso?
- O recheio.
- O recheio? – a velha mantém suspenso outro pedaço do bolo que trazia à boca.
- É, o recheio, coloquei caco de vidro moído junto com o chocolate.
- Como? – os velhos olhos esbugalham-se e a boca abre num vinco trêmulo, nem tem tempo de levar a mão à barriga, desabando no piso frio de ardósia da cozinha.
Doriana faz de conta que nada percebe.
Ajeita o capuz vermelho por cima da cabeça apanha o binóculo e vai até a janela, depois começa a bisbilhotar, casa por casa, a vida dos vizinhos.

terça-feira, 9 de março de 2010

DESERTOR

Pensei que eu jamais quisesse esconder o desprezo que sentia por aquelas pessoas e pela maneira como viviam, como se deixavam viver – paradas dentro de seus carros ou espremidas dentro de ônibus ou em vagões de trens que mais pareciam latas de sardinha, encarando com um resto de sobriedade estúpida a árdua batalha da vida, soldados prontos para a morte à qualquer preço, metidos numa guerra inútil onde invariavelmente acabariam mortos por um punhado de dinheiro, um pedaço de um sonho imbecil qualquer como um carro do ano, um apartamento super-seguro, remédios e microcomputadores numa fortaleza de plástico boiando no meio de algum oceano. Até então éramos todos perdidos no labirinto das drogas, mas exceto por dois ou três idiotas cuja fraqueza era maior do que a vontade de gritar, todos nós tínhamos consciência de que a imensa dor que carregávamos nas costas como uma desgraça eterna era fruto da capacidade de percepção que naturalmente é dada apenas a certos indivíduos capazes de antever o momento exato em que deixavam de lesar teus cérebros e passavam a foder teus rabos, como se o corpo, essa carcaça impune, não passasse de mero objeto passível de troca, uma simples peça da inquebrantável massa trabalhadora, essa mesma massa pela qual eu começara a sentir um profundo desprezo que se traduzia numa ânsia de aniquilá-la ao menor movimento, ao mais sutil vacilo. E eu sabia que estava pronto. Uma guerra particular detonara como uma bomba dentro da minha cabeça, liberando milhares de endorfinas venenosas de modo que minha maior ocupação e alento era embrenhar-me pelas majestosas construções de concreto despejando doses cavalares de cianureto nos reservatórios de água do mundo. Na esperança de que a última particula dessa massa disforme enfim tombasse.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

BRAÇOS DECEPADOS

O que mais me irrita no trânsito são aquelas pessoas que dirigem com um braço para fora do carro
antigamente eu tinha vontade de decepar cada um deles com uma faca
mas acabei optando por um machado que eu mesmo afiei com uma pedra
meu amigo Zoe foi quem me convenceu de que machados são mais eficientes nesse tipo de serviço
Zoe é meio maluco
apesar disso a maioria das coisas que ele diz faz sentido
- Ei Zoe – eu disse – Que tal pular aqui dentro do meu carro e guiar pela cidade enquanto empunho esse belo machado afiado?
ele me olhou desconfiado e lá fomos nós
com três baldes de cerveja de três litros cada
logo na primeira avenida avistei um sujeito dirigindo com o braço estendido para fora do carro
levantei bem o machado enquanto Zoe diminuía a velocidade
o rasgo foi enorme e o sujeito gritava
trincou até a lataria
- Acelera Zoe – eu disse – Vamos para o próximo
mais um
mais dois
esse último foi tão feio que senti uma ponta de remorso
e pensei em atirar o machado pela janela enquanto atravessávamos a ponte do Big River
- Nada disso – Zoe falou – Vamos decepar alguns outros humanos
mas eu sentia apenas vertigem
e ódio de mim mesmo
e um pouco de pena de Zoe, aquele completo babaca inútil
- Ei Zoe, sabe de uma coisa?
ele me olhou assustado
afinal de contas eu empunhava o machado
- Q-Qu-Quié? – ele perguntou
num único golpe certeiro rachei-lhe a fronte
Zoe tombou no volante e o carro bateu no canto da ponte
um gesto vale mais do que mil palavras alguém já disse
atirei o machado no rio e saltei por cima do corpo de Zoe
acendi um cigarro
e sai caminhando no meio daquele congestionamento horrível...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

BIFE FRITO NO JANTAR

No sonho a passagem é sempre a mesma, tenho um machado ou uma faca de açougueiro em uma mão. Repentinamente entro na casa do vizinho, ele está sentado no sofá assistindo televisão enquanto sua mulher seca a louça na cozinha, é noite e a filha pequena brinca dentro de um berço no primeiro quarto, entro correndo e a alcanço antes que seu pai ou sua mãe possam me impedir, primeiro retalho a criança, depois passo para o pai e por fim cuido da mãe, parece muito fácil matar toda a família e vendo minha obra concluída sinto uma felicidade inexplicável, vou até a cozinha e então me sirvo, com a mesma arma que acabara de utilizar corto uns pedaços grandes de carne, depois tempero e frito. Sirvo um pouco para o gato, embrulho o resto em papel alumínio e volto para casa, minutos depois a polícia chega, fazem algumas perguntas, reviram a casa e depois vão embora sem me causar grandes problemas. Minutos depois escuto a sirene de uma ambulância, abro uma lata de feijão e debruçado na janela assisto todo o movimento lá embaixo. Minha mulher chega do trabalho, entra em casa correndo me contando que acabou de ver o corpo de bombeiros removendo os corpos – Amor, você não sabe o que acabou de acontecer – ela fala – Quer um pouco de bife frito? – mudo de assunto nauseado com tanta violência.

CONSIDERAÇÃO DE IRMÃO

- Depois de um tempo você percebe que a maioria das pessoas ta simplesmente perdida – o Neguinho falou, olhando toda aquela gentarada na rodoviária assim que saltamos do metrô, tava de passagem comprada e tudo, iria passar um tempo na casa de um tio em Minas, isso porque ele tinha aprontado uma pra cima dos caras da boca e a gente acabou convencendo o cara a dar o fora por uns tempos, até a poeira baixar.
O aviso tinha sido dado dias antes no futebol do domingo, a gente tava atrás de uma pilha de grama cortada fazendo nosso aquecimento, o Neguinho tava na dele e do nada o Serginho aparece apavorando o cara com aquela história de que os caras da boca tavam afim de arrancar sua cabeça com um canivete, tudo porque ele tinha roubado uma caixa de coca-cola do bar de um maluco que prestava algum serviço pra eles.
Eu sabia que parte da história tinha sido inventada, na verdade o Serginho tava querendo dar uns catos na Marcinha - apesar do Neguinho andar pra cima e pra baixo com o braço envolta do pescoço da menina – e tinha inventado esse papo dos caras da boca só pro Neguinho deixar o terreno livre por uns tempos. Dias antes, eu e o Magrelo já estávamos sabendo de tudo, o Serginho tinha comido a mina do cara na casa do Magrelo e pra evitar qualquer tipo de conflito bolamos esse plano na mesma noite, aproveitando o fato de que dias antes o Neguinho tinha mesmo roubado uma caixa de refrigerante de um bar ali perto.
- Depois de um tempo você percebe que a maioria das pessoas ta simplesmente fodida - eu disse enquanto pagava por duas latas de cerveja, o alto-falante anunciava as próximas viagens e ninguém por ali parecia muito disposto a ir para longe de forma que eu também cogitei a possibilidade de embarcar rumo à Minas e dar um pulo no Planalto Central logo depois, mas desisti da idéia assim que fiquei sabendo do valor da passagem e além do mais eu tinha um prova de direção na segunda, daquela que era minha terceira tentativa no ano - nada como compromissos - pensei e acenei para o mais recente ex-amor-de-toda-a-vida da Márcia. Fiz o caminho de volta para casa pensando em milhares de bobagens
Não éramos muito de ficar inventando histórias, além do que a Marcinha mesmo tava meio de saco cheio, o problema é que o Neguinho é um cara legal pra caramba, desses pra quem você nunca quer criar nenhum tipo de grande problema, desses por quem a gente tem consideração de irmão.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O MASSACRE DE COLUMBINE

Muito antes de Eric Harris e Dylan Klebold virem ao mundo outra Columbine, localizada a cerca de 20 milhas de Tucson - Arizona, já era conhecida como palco de um sangrento massacre.

O primeiro massacre de Columbine, como ficou conhecido anos mais tarde, foi praticado por dois jovens desbravadores americanos, pais de família e munidos de rifles e idéias expansionistas na cabeça, Timothy Johnson e Lee Astley invadiram uma pequena reserva indígena na noite de 20 de janeiro de 1879. A intenção dos dois era de converter ao cristianismo os cerca de 2.000 índios que viviam na reserva. Como os índios se mostravam muito mais interessados nas tendas chinesas que clandestinamente chegavam do Pacífico, Johnson e Astley tomados de ódio e desprezo pelo povo nativo não encontraram outra solução a não ser matar cada membro da tribo que encontrassem pela frente. No total foram 113 mortos, incluindo 10 velhos apaches que tinham escapado de outro ataque cerca de dois anos antes em Denver, no Colorado.

Até então Columbine era uma vila pacata, formada, sobretudo por trabalhadores de companhias férreas e carvoeiras locais, jamais registrara um caso de homicídio, a polícia local passava tardes inteiras jogando baralho e palitando os dentes na única sala de uma delegacia vazia conhecida entre os moradores locais como Bocejo.

Investigações posteriores encontraram bíblias com passagens grafadas por Timothy Johnson e anotações que Lee Astley fizera detalhando os planos para o ataque.
Cerca de 900 disparos foram feitos pelos dois rifles utilizados naquela noite.
Depois da chacina Johnson e Astley cavalgaram para o norte onde foram condecorados com a medalha de honra ao mérito e lutaram bravamente contra o exército do sul, seus nomes foram grafados numa pedra às margens do Rio Grande no início do século seguinte.

Dizem que depois do massacre, a pequena vila de Columbine desapareceu por ordem do governo, temendo uma possível retaliação dos povos indígenas, o povo que ali vivia rumou para a Califórnia enquanto os índios assustados fugiram para terras mexicanas.
Só depois de muito tempo, em outubro de 1998, durante uma conferência sobre reciclagem em Nova York é que a motivação por detrás dos atos dos dois assassinos foi contestada pela primeira vez, sob uma mistura de vaias e aplausos ninguém notou quando dois estudantes deixaram a sala sorrateiramente, pegando uma estrada que os levasse de volta para suas casas – onde também tinham um plano, outra vez.

domingo, 22 de março de 2009

JOHN HENRY

John Henry sempre foi o gatilho mais rápido do bairro onde passara mais da metade de sua curta vida de 27 anos, capaz de derrubar um homem a uma distância de cinco mil metros disparando um único tiro, era temido até mesmo pelo delegado que volta e meia convidava John Henry para tomar um café na sua casa – Sente-se meu amigo – o delegado dizia com um sorriso de orelha a orelha, puxando uma cadeira na varanda dos fundos. John sabia que a intenção do delegado era que ele se casasse com Hortaliça, sua filha mais nova, mas Hortaliça era caolha e seu nariz vivia escorrendo, além do mais ele tava a fim de duelar pelas ruas empoeiradas dos arredores, conseguir mulher nunca fora um problema para ele, pelo contrário, elas viviam caindo aos seus pés como patinhos vampiros numa lagoa de sangue – Estou pouco me fodendo – John Henry respondia às investidas da menina que declarando todo o seu amor dizia-se disposta a casar-se imediatamente com ele na primeira igreja que encontrassem pelo caminho – Que caminho? – ele responderia, pois para John Henry a vida não era feita de caminhos, existiam apenas atalhos por onde ele caminhava furtivamente com sua pistola alemã e suas lendas típicas de cinema italiano. Um dia, porém o delegado decidiu concorrer à Câmara dos Comuns, uma espécie de instituição parasita municipal e escolheu John Henry para ser seu cabo eleitoral, propondo pagar-lhe a quantia de vinte e duas moedas de ouro por semana, John que não era bobo nem nada topou na mesma hora, o que aconteceu a seguir foi que o tal delegado ganhou as eleições e nomeou John Henry como seu braço-direito, foi um tempo depois disso que surgiram rumores de desvio do dinheiro que a capital mandava para a Câmara dos Comuns gastar com festa e cerveja para um conta bancária em Roma. John logo deixou sua pistola de lado para casar-se com Hortaliça, as pessoas diziam que ele estava enfeitiçado pela política e que as perspectivas de poder acabaram por tornar-lhe um homem comum, logo teve dois, três, quatro, cinco filhos, todos gorduchos devoradores de pão com maionese, John sucedeu o sogro no cargo de presidente da Câmara e pelo menos uma vez por mês viajava a negócios para Roma ao lado de dois seguranças mal encarados. Com todo o seu tempo agora ocupado pela política John não encontrava mais tempo nem disposição para os duelos, nem um único homem havia sido derrubado depois que o delegado ganhara as eleições. John Henry trocara suas botas de bico fino e suas calças de couro por sóbrias roupas sociais e dizia-se à boca pequena que agora ele era um homem muito mais perigoso do que fora antes quando desfilava com sua automática alemã na cintura, botando medo em brutamontes foras da lei e forasteiros de sangue frio feito a Sibéria.

quarta-feira, 18 de março de 2009

JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS

Juntou as duas persianas e girou o trinco, fechando a janela pela nona vez naquele dia a fim de conter o barulho que vinha das ruas.
Era impossível ficar muito tempo fechado naquele calor insuportável, ainda assim parecia melhor do que a agitação do trânsito e a fumaça que subia de fora.
Retesou-se no sofá, antes de atirar para longe o par de tênis que acabara de descalçar. Arrancou a camiseta e jogando-a atrás da cabeça, improvisou um travesseiro, fechou os olhos e mesmo assim ainda era possível escutar a multidão que parecia agitar-se cada vez mais lá embaixo.
O apartamento não era novo, embora tivesse passado por uma reforma recente. Parecia confortável, tendo cômodos grandes o bastante para que ele e sua menina pudessem, de certa maneira, se perderem entre aquelas paredes brancas.
Não havia móveis ainda. Eram inquilinos novos, de um casamento novo, forjado longe das igrejas e dos cartórios, uma união feita sem a concessão das famílias, embora isso não fosse realmente necessário. Ele tinha 19 e estava desempregado, ela 17 e tinha conseguido um emprego na agência dos correios uma semana antes de se mudarem para lá.
Na sala, havia o sofá cinza repousado num canto e o aparelho de som ligado na parede oposta, um disco rodava em cima dele, Jesus não tem dentes no país dos banguelas – já tinha ouvido tantas vezes e seus tímpanos quase furaram de enjôo, aumentou o volume mesmo assim.
Entre uma música e outra era possível escutar o som das ruas, as sirenes ligadas das viaturas policiais e das ambulâncias. Três de cada, no final da penúltima música do lado A.

E quando enfim chegar a tua hora Não vão pôr flor ao pé da tua cova...

17h35min. Quinta-feira, sua menina saía mais cedo nesse dia, lembrou disso só quando ouviu os passos subindo a escada até o primeiro andar, depois a chave girou na fechadura. Outra vez fechou os olhos, uma ambulância passava lá fora e antes que um beijo quente tocasse o seu rosto, escutou também o som da agulha girando falso no fim do disco, e sentiu o sol bater perto do seu rosto quando a janela foi aberta. A claridade e o barulho tomaram conta da sala, a música tinha acabado. Cinco a quatro para as ambulâncias, hora de acordar.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

SUGAR SPUN SISTERS - PARTE 11

FINAL

Sally Candy pareceu fora de órbita durante uns dois ou três meses depois de ter sido oficialmente admitida na banda, seu relacionamento com Trama e Tracy era puramente profissional, Violet Mary parecia disposta a ajudar a menina, ainda com 24 anos, a não se perder pelo caminho, como tinha acontecido com tantas pessoas próximas.
Agora, seu rosto estampava as capas das principais revistas de música e entretenimento e a quantia de créditos em sua conta era maior do que podia calcular. Pensou nos caminhos que poderia ter seguido e nos atalhos que poderia ter pego, mas nenhum deles parecia levar ao lugar que ocupava agora.
Para ela tudo ainda parecia um sonho, demoraria um pouco até que os problemas relacionados à fama, dinheiro e ego emergissem.

Troper Tracy completara 30 anos em março e desde então sua coleção de tanques de guerra só aumentara. Pela primeira vez na vida Tracy conseguira se apaixonar por alguém, longe dos semanários sensacionalistas que exploravam sua imagem de bêbada da banda, Tracy estava de viagem marcada para conhecer um pequeno asteróide ao redor de Karamatan, que Eva lhe indicara como uma compra perfeita e talvez fosse lá que ela passasse os próximos três meses, enquanto não entrassem novamente em estúdio.
A vida não tinha sido muito fácil desde que aceitara o convite de Max para tocar numa banda feminina de música antiga, mas tinha reservado coisas muito melhores do que ela jamais poderia imaginar um dia.

Com 31 anos de idade e uma fortuna incalculável, Eva Trama, líder das SUGAR SPUN SISTERS tinha pouca coisa com que se preocupar, ganhara o título de personalidade feminina por dois anos consecutivos, sua coleção particular de pequenos asteróides era tão grande que nem ela mesma sabia quantos possuía. O rompimento com Vera Starkey, o afastamento de Max Vax e a abertura de uma nova gravadora em seu nome davam-lhe tanta tranqüilidade que seu passatempo preferido no final de 112 d.a.c. era jogar golfe em companhia das sobrinhas.
Violet Mary se transformara numa grande amiga e os problemas de Troper Tracy com álcool estavam aparentemente sob controle.
Uma última pesquisa encomendada por ela mostrava que sua popularidade ultrapassara a de Magnetic.
Com sete álbuns lançados, cerca de quarenta músicas entre as mais populares dos últimos anos e um nome acima de qualquer suspeita, Eva Trama não parecia de todo satisfeita. Ela queria um filho. Não exatamente um casamento convencional, Tracy estava com o seu marcado para o início do ano seguinte, ela seria uma das madrinhas, tudo bem, vamos lá, mas havia outras coisas para serem conquistadas. Suas sobrinhas pequenas corriam pelo campo de golfe enquanto ela refletia com um esboço de sorriso no rosto.

Emperor, secretário de finanças da EVA RECORDS discou vinte e cinco números no seu aparelho telefônico. Lá fora havia luzes anunciando as festas para o final do ano, do outro lado da linha, depois de breves dois toques, Violet Mary atendeu, ela estava com Xerox no colo e enquanto segurava a criança, pedia informações sobre a recente pesquisa de popularidade encomendada por Eva Trama, ficou feliz em saber que sua popularidade crescera tanto, ainda assim não era o bastante, pediu para que Emperor modificasse os números, colocando o seu nome à frente do de Eva e se passasse por algum informante da gravadora, repassando esses números alterados para os jornais e redes de televisão de Lucrecia.
Na manhã seguinte centenas de veículos de comunicação especializados em música queriam umas palavrinhas de Violet Mary, a mais popular das SUGAR SPUN SISTERS. Antes disso ela havia ligado para sua nova melhor amiga, Sally Candy, avisando-a do perigo que Eva Trama representava e contando que Troper Tracy, uma bêbada incorrigível, vivia errando o tempo das músicas e que talvez fosse melhor ser substituída. Quando Sally Candy contou que tinha um bom nome em mente foi como se Mary olhasse para trás e visse o seu passado novamente, ele estava ali, num desfile insano a menos de três palmos do seu rosto, não era exatamente uma visão feliz, mas confortava-lhe a idéia de transformar-se na líder das SUGAR SPUN SISTERS um dia, mas para isso teria que passar por dois obstáculos bem conhecidos.

COMO COMECEI A TOCAR GUITARRA

Lembro que eu procurava por endereços de clínicas médicas especializadas em transplantes, quando topei com um artigo interessante que descrevia de forma resumida a prática do escambo na sociedade moderna.
Eu tinha esse pulmão e estava disposto a vendê-lo por uma quantia módica. Fiz algumas buscas na internet e encontrei um cara numa vila de Marrakesh, com uma criancinha latino-americana, linda, uma menininha de nome Angélica e tenros oito anos de idade.
Rapidamente fizemos o rolo, desfiz-me de um pulmão praticamente intacto e fiquei com a garotinha.

Seguimos para o oriente, torrando minha grana com balas e sorvetes.
Meses depois, durante uma viagem de barco pelo Oceano Indico, conheci essa senhora, ela possuía uma velha casa num bairro decadente de Paris, tratava-se de uma propriedade muito velha, no entanto, havia um piano, não entendo muito de piano, mas pela fotografia que me foi mostrada na época, parecia ser dos bons.
Fizemos o rolo ali mesmo, no barco, cercados por aquela imensidão levemente esverdeada do oceano.
A velha levou a menina e eu fiquei com um pedaço de papel indicando o caminho e a pessoa que deveria procurar em Paris.

Recém chegado à capital francesa toquei a campainha do endereço rabiscado no papel, um sujeitinho corcunda atendeu a porta. Em menos de quinze minutos fizemos um acordo.
Entreguei-lhe um olho de vidro e ele ajudou a carregar o piano até o porto de Brest de onde embarquei num vôo fretado até Maracaibo.

Encontrei Paco Juarez num campeonato de pesca, domingo de manhã. Paco andava ligado em jazz e cocaína 24 horas por dia, parecia uma versão gorducha de Jack Kerouac. Acabou ficando com a piano, nem foi preciso insistir muito, apanhei Guarantama, uma indiazinha paraguaia que vivia com Paco em Lima.
Voamos para a Indonésia no dia seguinte. Guarantama e eu – éramos um casal e fomos felizes durante um tempo. Até conhecer Annavirra, a Stratocaster de Lúcio-boca-de-litro e foi assim que me despedi de Guarantama, sem poder, no entanto, segurar as lágrimas, empunhando minha Fender vermelha enquanto aquele pequeno barco pesqueiro se afastava da orla provocando pequenas ondas dentro da minha cabeça que transbordava em notas musicais dissonantes da realidade que eu tinha vivido até aquele momento.
E foi assim que comecei a tocar nas noites de Adelaide.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

SUGAR SPUN SISTERS - PARTE 10

XEROX E SALLY CANDY

Em 110 d.a.c. Eva e as meninas resolveram tirar férias antes de cuidar de toda a burocracia necessária para a abertura de uma gravadora própria.
Enxurradas de relançamentos, coletâneas e álbuns ao vivo foram lançadas pela VENUS de Max Vax. Enquanto a MARS de Richard, contabilizada as somas estratosféricas do álbum com as músicas inéditas que Miz Magnetic deixara prontas para serem lançadas. Com o nome de MIZ, apenas, o disco vendeu mais do que o sexto álbum das SUGAR SPUN SISTERS, Eva Trama e Violet Mary, cujo relacionamento dava visíveis sinais de melhora, lamentaram perder o topo das paradas para as músicas de Miz.
Felizmente para a banda, quanto maior a visibilidade de Magnetic, mais discos as SUGAR SPUN SISTERS vendiam, pois era impossível, tanto para a mídia quanto para o público separar uma coisa da outra.
Até o final do ano Violet Mary anunciaria sua gravidez, surpreendendo todo mundo, ela declarou à imprensa não saber nada a respeito do pai e disse estar totalmente desinteressada no assunto. Seu filho nasceu em abril do ano seguinte, enquanto universos inteiros aguardavam o lançamento de um novo álbum da banda.
Entre julho e outubro, Eva Trama havia preparado todo o terreno para a abertura de uma gravadora. Em novembro Mary, Rocks e Tracy ficaram surpresas quando uma rede de televisão de Ancara anunciara que o nome da nova gravadora da banda seria EVA RECORDS. Com o posto de líder indiscutivelmente assumido, era Eva quem cuidava dos assuntos administrativos da banda e estava claro que ela queria divulgar seu nome.
Um novo contrato válido até janeiro de 114 d.a.c. foi assinado pelas quatro integrantes, garantindo 25% dos direitos sobre o lucro das vendas de discos para cada uma, incluindo também os ganhos com apresentações e produtos publicitários. Em setembro de 111, XEROX, 7º álbum da banda, chegou às lojas, o nome era uma homenagem ao filho de Violet Mary, Xerox Botox, sempre presente aos ensaios. A gravação desse álbum foi acompanhada de uma crescente tensão entre Trama e Rocks. Desde o seu casamento com um dos netos do IMPERADOR X, Rocks vinha ganhando mais e mais notoriedade pelas constantes notícias acerca do seu casamento, com total aversão a qualquer integrante que tivesse maior destaque do que ela dentro da banda, Eva Trama preparava o terreno para que a situação de Rocks dentro do grupo ficasse insustentável.
Violet Mary tinha grande importância e suas composições vinham rendendo rios de dígitos para a banda, Troper Tracy era insubstituível, tanto como baterista, como amiga de Trama, mas de Rocks ela podia abrir mão. Em novembro quando Rocks chegara duas horas atrasada para a passagem de som, pouco antes de uma apresentação na capital de Lucrecia, foi despedida, sem maiores explicações, por Trama e Mary. Sozinha nos camarins, Rocks chorava copiosamente enquanto Violet Mary ligava para uma amiga, fazendo um irrecusável convite.
As vendas de XEROX haviam ultrapassado as do último álbum, Trama parecia mais feliz do que nunca e disse esperar apenas por uma nova baixista para que pudessem retomar a tournê.
Sally Candy foi apresentada à imprensa na tarde do dia 19 de novembro, menos de uma semana após Jaw Rocks ser demitida. Sally era tão nova quanto Rocks, discreta e fazendo praticamente tudo o que Eva lhe pedia, parecia o nome certo para ocupar um posto onde deveria chamar o mínimo de atenção para si. Embora não tivesse sido divulgado na época e Sally Candy posasse junto com Trama, Tracy e Mary para as fotos promocionais da banda, por contrato, ela não passava de uma baixista contratada, recebendo um salário fixo por mês e podendo ser demitida a qualquer momento. Mas Sally Candy tocou admiravelmente bem todas as músicas apresentadas na tournê de XEROX que só chegou ao fim em junho de 112.
Rocks entrou com um processo trabalhista contra a banda, mas não obteve sucesso. Violet Mary encontrou-se com IMPERADOR X, explicando-lhe os detalhes da saída de Rocks, sua versão era de que o envolvimento da baixista com álcool e drogas havia motivado a demissão, em troca elas aceitariam pagar um tratamento para Rocks, IMPERADOR X que desde a demissão de Jaw da banda, ameaçara impedir que seus discos fossem vendidos em Lucrecia, terra natal de Trama e Tracy e principal mercado consumidor para o grupo, voltou atrás declarando pouco depois seu amor incondicional às SUGAR SPUN SISTERS, mesmo que Rocks não fizesse mais parte dela. Embora tentasse desmentir as palavras de Mary, Rocks encontrou uma imprensa totalmente comprada por Eva Trama para que as afirmações da vocalista fossem confirmadas como verdadeiras. Ela ainda ganharia uma indenização considerável da EVA RECORDS tempos depois, mas não conseguiu superar totalmente o ocorrido, afastando-se do meio musical e temendo pelo futuro de Sally Candy.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

TATIANA E LUIZ

Tatiana tinha cinco anos quando viu na televisão um programa que contava a estória de um menino que mesmo depois de perder os dois braços num ataque de tubarão, tinha conseguido vencer a maratona mirim no ano anterior. A menina que tinha acabado de aprender a andar de bicicleta, e cuja saúde perfeita jamais fora explorada para seu benefício, decidiu que era hora de fazer seu sucesso.

Aos quinze anos, Tatiana era tricampeã da volta de Paris e tetracampeã da maratona ciclística de Xangai.
Infelizmente, uma fatalidade terrível acabou com o sucesso da menina sobre duas rodas, quando um caminhão basculante prensou sua perna contra a mureta central de uma avenida. Tatiana ainda tentou pedalar com uma prótese, mas não conseguia chegar entre os primeiros lugares, esquecida logo depois pelo grande público que não via mais motivos para aplaudir seus feitos contidos, ainda que lhe faltasse uma perna.

Começou a participar de corridas de saco, nessa modalidade as chances de vitória eram grandes e quase sempre acontecia da menina chegar em primeiro, a visibilidade e o retorno financeiro não eram bons o suficiente, mesmo assim a vida seguia seu rumo até que um dia, saltando com sua única perna dentro de um saco, Tatiana imediatamente sentiu uma fisgada no calcanhar, acompanhada de uma dor intensa e um leve entorpecimento. Era uma cobra africana, cujo veneno na sua corrente sanguínea, mesmo com o pronto atendimento dos médicos, acabou com inutilizar sua única perna boa que assim como a anterior teve que ser amputada.

Pobre Tatiana teve que encontrar alento numa fazenda produtora de maçãs onde colhia as frutas de uma cadeira de rodas. Foi lá que conheceu e se casou com o rico proprietário do negócio cujo nome era Luiz.
Certa noite, pouco depois da lua de mel, Tatiana e seu marido conversavam sozinhos na mesa do café da manhã:
- Não entendo como pôde gostar tanto de mim – ela disse
- Gostei de você desde a primeira vez em que a vi.
- Mesmo?
- Claro, fiz de tudo para você chegar até aqui.
Então Luiz abriu a carteira e mostrou o documento de um veículo, cuja placa era a mesma do caminhão que tinha arrancado sua perna cinco anos antes.
- Então foi você?
- Fiz por amor.
- E a cobra?
- Também fiz por amor.

Então os dois se uniram num abraço emocionado, e foi nesse instante que os dois braços do homem se soltaram de seu corpo e caíram no chão. Ao ouvir o barulho daqueles plásticos que não mais a seguravam Tatiana ficou surpresa:
- Duas próteses?
- E um tubarão.
Ela o abraçou e ele logo trançou as pernas em volta da sua cadeira de rodas.
Riram alto num tombo inevitável.
E foram felizes, de certa forma.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

SUGAR SPUN SISTERS - PARTE 9

SUGAR SPUN SISTERS VOL. 5 E 6

Entre outubro e novembro, Trama, Mary, Rocks e Tracy trabalharam em novas músicas para o quinto álbum, a intenção era tirar o máximo de proveito do contrato com Max, que de certa forma, era uma vantagem enorme comparado ao acordo feito com a SATURN.
Todas elas sabiam que teriam de encarar o antigo contrato por mais um ano. Max trabalhava na mixagem das novas músicas, embora suas idéias fossem descartadas de cara, o álbum ficou pronto em tempo recorde.
No dia 27 de novembro as dez músicas estavam prontas. Produzido por Max e Trama, todas as dez faixas eram cantadas por Violet Mary. Foi de Mary também a idéia de dar o nome ao álbum de Magnetic, mas Eva Trama, num resquício de sensatez, pela primeira vez rejeitara a idéia de levar vantagem em cima do nome de Miz Magnetic e como ainda era dela a última palavra, o álbum foi lançado com o título de SUGAR SPUN SISTERS VOL. 5, o nome tinha sido idéia de Tracy.
Apesar de Trama e Mary desfilarem sempre juntas agora, Tracy continuava sendo a melhor amiga de Trama dentro da banda e suas idéias sempre eram levadas em consideração. Max havia planejado lançar o álbum três semanas antes do natal, esperava, dessa forma, que as vendas fossem melhores que dos dois últimos álbuns. A enorme exposição que a banda sofrera desde a morte de Magnetic certamente ajudaria bastante. Todos estavam confiantes, e quando as tiragens começaram a chegar às lojas, filas imensas se formavam e convites para apresentações e entrevistas não paravam de chegar.
Eva Trama tinha motivos de sobra para se sentir confiante, ela havia encomendado uma nova pesquisa a respeito da popularidade das integrantes da banda, cujo resultado saíra praticamente junto ao lançamento do quinto disco. Magnetic continuava sendo a integrante com maior popularidade junto ao público, mas agora era de Trama o segundo lugar, de longe ela ficava à frente de Violet Mary, que preocupantemente tinha crescido muito em popularidade, ultrapassando Jaw Rocks e Troper Tracy. Tracy definitivamente não estava interessada nos holofotes da mídia, ao invés disso, preferia gastar sua fortuna colecionando antigos tanques de guerra e uniformes das forças armadas de diversos lugares, deixava para o resto do grupo a disputa pelos flashes das câmeras.
Saudado como um renascimento pela crítica especializada, SUGAR SPUN SISTERS VOL. 5 logo alcançou o topo das paradas em Lucrecia, Ancara e Straikova. Em janeiro de 109 d.a.c. Jaw Rocks, então com 21 anos, anunciou seu casamento com um dos membros da família do IMPERADOR X. Manchetes do mundo inteiro estamparam a notícia e nas ruas não se falava em outra coisa. Enquanto isso, Richard, o filho de Vera, que agora tomava conta de seus negócios junto à SATURN travava um duelo jurídico com Max Vax pelo controle da gravadora. Para acalmar os ânimos, Eva Trama cancelara a tournê de divulgação do novo álbum, anunciando que o sexto disco seria gravado até o final do ano, num acerto conjunto entre Trama, representando a banda, Max e Richard, ficou combinado que todo o dinheiro arrecadado com a venda do álbum seria dividido entre Max e Richard, Trama e o resto do grupo ficariam com tudo o que conseguissem faturar com as apresentações. Apesar dos protestos de Mary, Trama acabou assinando o contrato. Aliviada por ter finalmente dado um ponto final no longo relacionamento das SUGAR SPUN SISTERS com Max e a SATURN, Eva embarcou num vôo acompanhada de Dina Y. Eva não compareceria ao casamento de Jaw Rocks, marcado para o dia 16 de fevereiro.
Em maio, Max e Richard finalmente chegaram a um acordo, a SATURN seria dividida em duas novas companhias, a VENUS de Max e a MARS controlada por Richard. Procurada por Max, para um novo contrato para o próximo ano, Trama rejeitou de a proposta, dizendo que elas tinham a intenção de abrir uma gravadora própria.
Em setembro entraram em estúdio para finalizar as músicas do sexto álbum. SUGAR SPUN SISTERS VOL. 6 foi lançado no dia 2 de outubro de 109 e fez tanto sucesso que Mary criticou publicamente Trama por ter feito o acordo com Max e Richard dando-lhes todos os créditos gerados pelas vendas do álbum.
Com o relacionamento abalado Trama afastou-se de Mary. E enquanto comemoravam as quatro músicas do sexto álbum que estavam entre as cinco primeiras do ano, todos os meios de comunicação anunciavam o terceiro aborto de Tracy em quatro anos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A COMPANHIA COOPERATIVA DOS ANJOS CELESTIAIS

Semana passada aconteceu um acidente na saída do viaduto. Um carro perdeu o controle e bateu num poste e pelo que falaram a coisa foi feia. Tanto que o motor inteiro do carro parou a uns 30 metros de distância do local do acidente.
O veículo tinha um só passageiro. Um maluco. Deitou na hora e agora só acorda de madrugada, quando todas as luzes e mentiras já foram embora.
Dois dias depois eu tava passando pelo viaduto, era umas sete, sete e pouco da noite e vi o maluco lá, parado, acenando, pedindo para que eu encostasse. Embora eu não tivesse certeza de que gesticulasse para mim, afinal havia outros carros passando naquela mesma hora, tinha alguma coisa no movimento dos olhos dele, entende? Um olhar de cumplicidade e denúncia ao mesmo tempo.
Então passei por lá novamente anteontem, e advinha se não encontrei o maluco por lá, todo pintado de branco, em roupas fantasmagóricas, acenando na minha direção. Olhei pelo retrovisor, nenhum carro vinha, onze e meia da noite, aquele esboço branco gesticulando lá atrás, pisei firme no freio e voltei. Encostei o carro e o maluco chegou bem perto, de forma que era possível sentir o seu hálito, o hálito da morte, enquanto ele contava sobre todas as coisas boas que tinha para se fazer no além mundo, coisas que me deixaram muito animado. Então ele entrou no meu carro, ainda tínhamos o viaduto inteiro pela frente, pisei fundo no acelerador e saltamos juntos para dentro do rio num acidente cinematográfico. Só faltou a explosão. Mas a vida é assim.
Agora estamos aqui, tocando harpa com caveiras incrustadas nas pontas e brilhantes pedras vermelhas dentro dos olhos.
E o maluco - vim descobrir agora a pouco, se chama Eduardo e coleciona frascos vazios de remédios fabricados especialmente para a companhia cooperativa dos anjos celestiais.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

SUGAR SPUN SISTERS - PARTE 8

ACIDENTE EM ANCARA

Enquanto todos especulavam sobre a possível saída de Magnetic das SUGAR SPUN SISTERS, as quatro remanescentes evitavam apresentações ao vivo, tudo para manter o nome de Magnetic relacionado à banda.
Era agosto de 108 e as festas corriam soltas por todos os lados. Em setembro não foi diferente. As estações meteorológicas registravam o ano mais quente das últimas décadas. Jack Jeck, amigo de longa data de Max Vax deixara sua mansão no litoral de Ancara aos cuidados de Looper, um cantor em ascensão que abrira algumas apresentações das SUGAR SPUN SISTERS e dos FEIKEES no ano anterior, ele organizara uma festa na noite do dia 29 de setembro, muita gente importante do meio musical foi para lá, inclusive Miz Magnetic - a noite era uma das mais quentes do ano.
Nessas festas, bebidas e drogas corriam soltas e ninguém ficava de fora, reza a lenda que Looper levara duas semanas para se recuperar dos comprimidos que tomara.
Miz Magnetic permaneceu cerca de quatro horas na casa, pessoas que conversaram com ela diziam que parecia bastante animada com o futuro da sua carreira solo e que não via a hora de se livrar de Max e da sua antiga banda, da qual evitava citar o nome. Passava das duas da madrugada quando Magnetic entrou no seu veículo em companhia de uma outra mulher, elas iriam para uma praia vizinha, passar a semana seguinte na casa de um amigo. Ninguém sabe ao certo como foi que tudo aconteceu, se foi por descuido, embriaguez ou falha mecânica, mas em determinada curva da tortuosa estrada que ligava uma praia à outra, o veículo que Magnetic comandava, perdeu o controle, capotou 16 vezes e chocou-se violentamente contra uma parede de pedra. Magnetic que iria completar 24 anos em 10 de novembro, morreu na hora, a ocupante do banco de passageiro também teve morte instantânea, coincidentemente quem viajava com Magnetic era Glória Tróia, saxofonista dos FEIKEES que rejeitara a proposta feita por Max Vax cinco anos atrás. Glória Tróia estava com 28 anos, tinha dois filhos pequenos e era uma das melhores amigas de Eva Trama e Troper Tracy.
Menos de uma hora depois do acidente, equipes de reportagem chegavam aos montes, congestionando a estrada que levava até o Hospital de Ancara. Todos queriam alguma confirmação oficial do ocorrido. A essas alturas Eva Trama já tinha sido despertada pelo toque do seu telefone, do outro lado da linha, Dharma, irmã de Looper, contou-lhe a notícia, atônita, Trama desligou o telefone sem mesmo despedir-se de Dharma, com a morte de Magnetic não tinha mais como associar o seu rentável nome à banda.
Na manhã do dia seguinte, Eva Trama marcou uma reunião com Troper Tracy, Jaw Rocks e Violet Mary - todas pareciam meio chateadas com a notícia, Troper, visivelmente bêbada ficou jogada num canto, enquanto Trama e Mary discutiam o futuro da banda, Rocks permanecia atenta à conversa, concordando com praticamente tudo o que as outras duas decidiam. Ficou combinado que elas trabalhariam com Max apenas até o final do ano, quando vencia o pré-contrato firmado em fevereiro.
Na opinião de Trama, Max não passava de um empecilho e já estava na hora de descartá-lo. Com o sucesso das vendas do quarto álbum, ela estava certa de que poderia contar com Mary para os vocais, também decidiram que continuariam como um quarteto, nenhum integrante iria substituir Magnetic e numa jogada de marketing resolveram relançar o fracassado terceiro álbum, renomeado para THE SUGAR SPUN SISTERS AND MAGNETIC. Sem saber que em breve estaria fora Max gostou da idéia, as vendas foram bem melhores, embora sofresse acusação de oportunista e gananciosa, Eva Trama parecia certa de que aquela era a homenagem apropriada ao trabalho que Magnetic executara enquanto estivera à frente do grupo.
Milhares de pessoas compareceram ao enterro na manhã seguinte, IMPERADOR X decretou luto oficial durante duas semanas e as vendas dos antigos álbuns dispararam. Vera Starkey, mesmo com a saúde precária e com os desentendimentos que tivera com Magnetic nos últimos meses, foi a única representante da SATURN presente ao enterro. Ela ainda iria ganhar muito dinheiro vendendo material inédito deixado por Magnetic e que por contrato lhe pertencia.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O BARCO MÁGICO QUE RODOPIA

Jamais devemos perder a fé – era o que Pedro, o ruminoso dizia toda vez que um bêbado descia cambaleando a rua do mercado. Era num daqueles velhos galpões abandonados que ele reunia seu pequeno rebanho de seguidores e curiosos, mesmo embaixo de chuva, mesmo nas noites mais frias do ano, lá estava Pedro, com seu cajado e seu manto branco encardido e sua pele esfacelada, derretida, pregando a fé nos assuntos divinos e o desprendimento das questões materiais.
Pedro era um mistério, até mesmo para a gente idosa que passara anos de suas vidas apoiados nos portões enferrujados de suas casas, fitando o cais a espera do navio mágico que rodopia ou talvez, apenas aguardando o carteiro com um telegrama ou conta para pagar.
Pedro tinha chegado pouco depois de termos ancorado naquele fim de mundo, passávamos por ali de quatro em quatro anos, era um porto pequeno e muito antigo, geralmente usado nas operações de venda e compra de mercadorias ilegais pelos ratos infiltrados no governo.
A vila por si só era um abandono. Suas ruas tinham cheiro de mofo e seus habitantes pareciam sempre cansados e entediados. Exceto para aqueles que seguiam Pedro, nada parecia lhes dar ânimo, a menos que você tocasse no assunto do barco.
A lenda do barco mágico que rodopia era tão antiga na vila, que os mais velhos lembravam remotamente de ter ouvido algo a respeito quando ainda eram muito jovens, ninguém ao certo sabia quando tinha começado, mas havia, certamente, muita gente que acreditava na lenda do barco mágico que viria resgatar os lúcidos, cujos cérebros ainda não tinham sido completamente tingidos pela maresia. Era uma estória maluca, mas quem ali naquele meio tinha algum tipo de sanidade comprovada?
Ancoramos numa quarta-feira de abril e lá ficamos até a metade de maio, foi uma época de muita chuva, vários alagamentos na parte mais baixa da vila, pessoas que perderam suas casas e seus bens dormiam na porta da prefeitura.
Isso certamente fez aumentar o rebanho de Pedro, o ruminoso. Pedro condenava abertamente a lenda do barco mágico, atribuindo tal mentira a algum espírito demoníaco que habitara aquele lugar. Seus seguidores viravam as costas para a imensidão azul que freneticamente agitava e parecia rugir, lá do alto.
Estávamos em cima de uma pilha de caixas que tínhamos acabado de levar para alto de uma colina, um lugar suficientemente seguro dos alagamentos. Podíamos ouvir Pedro vociferando para a multidão embaixo da pesada chuva que desabava. Primeiro suas palavras gritadas e logo depois os aplausos daquela gente.
Foi bem nessa hora que o vimos surgir como que rompendo uma enorme muralha de águas turvas, tão escuras quanto a noite que caíra, a primeira vista, aquela engenharia estranha e exageradamente colorida, cujas luzes, vermelhas e laranjas piscavam e giravam como pássaros alvoroçados não se parecia com nada que remotamente lembrasse uma embarcação.
Esfregamos os olhos, Pedro e seu rebanho não tinham visto ainda, enquanto algumas pessoas lá embaixo pulavam no mar e nadavam em direção ao barco – Jamais devemos perder a fé – Pedro dizia – Aqueles que crêem serão como a relva nos campos do Senhor – nisso boa parte da população da vila já tinha pulado no mar revolto, era difícil acreditar que alguém pudesse sair vivo daquelas águas. Saltei de cima das caixas e fiz um percurso difícil até a beira do cais, descendo ruazinhas escorregadias e passando em frente ao comício de Pedro pude ouvi-lo mais claramente – Aqueles que crêem serão como baldes recolhendo a enxurrada divina – alguns moradores me acompanhavam na descida e quando meus pés tocaram a plataforma de madeira, aquela imensa embarcação colorida cujas gargalhadas pareciam saídas da boca de peixes gigantes, afastava-se lentamente do porto.
Despertei na manhã seguinte, sentindo dores terríveis pelo corpo, estava nas escadas em espiral da torre de observação. O mar tinha avançado furioso para cima da vila naquela noite, meus colegas vieram ao meu encontro, pareciam não acreditar que eu estivesse vivo, nenhum deles tinha visto rastro de barco algum, um terço da população tinha desaparecido, equipes de resgate fizeram incessantes buscas pelo mar, mas nenhum corpo foi encontrado – Estão no inferno – Pedro vociferava.
Na semana seguinte consertamos os estragos que o maremoto fizera no nosso navio e partimos para outros portos.
Pedro, o ruminoso e seu pequeno rebanho eram os únicos que acenavam – Pobres diabos.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

SUGAR SPUN SISTERS - PARTE 7

MAGNETIC DE FORA

Para a gravação do terceiro álbum, Trama encontrara o refúgio ideal num pequeno planeta satélite pertencente à Stroikova. Gravado às pressas entre janeiro e fevereiro de 108 d.a.c e lançado no início de março THE SUGAR SPUN SISTERS foi um fiasco total. Max Vax tinha dado total liberdade para que Eva indicasse o caminho a ser seguido pela banda, ela convidara músicos em excesso para participar do projeto, a folha de pagamento da banda tinha um total de 29 pessoas, entre músicos e técnicos de som, além do mais o álbum estava recheado de músicas instrumentais com intermináveis solos de guitarra. As vendas foram tão baixas que muitos fãs desconheciam esse álbum, mesmo meses depois dele ter sido lançado, a explicação mais coerente para o desastre fora a retirada de Miz Magnetic do nome da banda, apenas duas músicas suas foram incluídas nas doze faixas que totalizavam o lançamento, enquanto Eva Trama era responsável por nada menos que oito faixas. Quando ficou sabendo do lançamento do álbum e do contrato que elas haviam assinado em segredo com Max, Vera Starkey sabia que estava de fora dos planos do grupo, até o final do ano ela sofreria um colapso nervoso que a deixaria impossibilitada de trabalhar pelo resto da vida.
Embora desse todo o apoio logístico para que Trama gravasse o álbum a sua maneira, Max guardava certa distância de Eva, certamente por temer que assim como Vera, ele também pudesse ser descartado num futuro próximo, por isso havia prometido à Virgin Mary maior espaço dentro do grupo.
Magnetic estava furiosa com a banda, especialmente com Eva Trama com quem não conversava desde as gravações do último álbum, ela foi pessoalmente até o escritório de Max Vax e disse que estava saindo do grupo, sabendo da importância de Magnetic para a banda, Max tentou convence-la a ficar, mas Magnetic deu-lhe as costas e nunca mais voltou. Foi Rocks quem conversou com ela por telefone dois dias depois, persuadida por Trama, Rocks tentou convencer Magnetic a voltar para o grupo, mas ela parecia decidida a seguir sua carreira solo, embora muitos fãs da banda questionassem a posição exagerada de destaque que Miz Magnetic ocupava dentro de grupo, grande parte deles achava que o álbum THE SUGGAR SPUN SISTERS não contava com ela e muitas pessoas esperavam por um segundo disco solo de Miz. Entretanto, tendo assinado um contrato com Max Vax que lhe dava o direito de explorar qualquer criação sua como sendo da banda, Magnetic sabia que até o final do ano seu nome poderia ser usado por Trama e cia para a divulgação de novos materiais. E foi exatamente o que aconteceu. Tentando ocultar o fiasco que THE SUGGAR SPUN SISTERS representara, Trama e Max correram para finalizar um quarto álbum, sem a presença de Magnetic ficou decidido que seria usando somente composições e vocais de Virgin Mary, Max multiplicara sua voz utilizando um recurso técnico que encobria possíveis falhas, THE SUGAR SPUN SISTERS VOL. 4, foi lançado em julho de 108 e trazia uma foto do grupo com Magnetic destacada à frente do restante da banda, nos créditos também havia o seu nome, embora ela em nada contribuísse para o álbum.
Claramente Eva Trama estava usando sua imagem para promover a banda. THE SUGAR SPUN SISTERS VOL. 4 foi lançado em julho, enquanto Magnetic tirava férias nas Ilhas Flutuantes, o álbum logo alcançou a primeira posição nas paradas e Eva Trama ao lado de Virgin Mary estavam em todos os programas de rádio e t.v. Profundamente abatida, Vera se retirara do meio musical e Magnetic procurava alguém que agenciasse a retomada de sua carreira solo, sua intenção era bater as SUGAR SPUN SISTERS em número de cópias vendidas, sem que Max ou qualquer outra integrante de sua ex-banda ficasse sabendo, Magnetic compunha material inédito que só deveria ser lançado no ano seguinte.
Nos bastidores da banda, Mary era de longe a mais empolgada em ocupar o lugar de destaque que antes pertencera à Magnetic. Ela e Max vinham conversando em segredo, o plano era tirar de Trama toda a atenção que ela ganhara dos meios de comunicação, a imprensa a tratava como a líder da banda e apesar dessa imagem estar bem próxima de verdadeira, não era a situação que Max e Mary desejavam.
Quando foi divulgada a notícia de que Miz Magnetic deixara a banda, os telefones e sites referentes ao grupo e a SATURN ficaram congestionados com milhares de jornalistas e fãs procurando alguma confirmação. O quarto álbum havia sido lançado uma semana antes, e apesar das vendas não serem tão boas quanto tinham sido as vendas dos primeiros, ainda assim elas estavam muito acima das vendas do terceiro disco.
Eva Trama, Violet Mary, Jaw Rocks e Troper Tracy fizeram um pronunciamento sobre as especulações referentes à saída de Magnetic da banda, afirmando que ela apenas tirara umas férias, elas sabiam que pelo contrato poderiam incluir seu nome nas divulgações das apresentações e nas capas e créditos das músicas lançadas até o final do ano.
Magnetic deu uma entrevista ao canal local de Lucrecia afirmando que fizera parte, efetivamente da banda, apenas nos dois primeiros álbuns. Trama pagou uma quantia considerável para que jornais e canais de t.v. desmentissem a notícia, Miz Magnetic dobrou o valor pago por Eva Trama, ninguém sabia direito em qual fonte confiar.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

SUGAR SPUN SISTERS - PARTE 6

Vera Starkey de fora

Embora a voz de Magnetic fosse, indiscutivelmente, a principal referência da banda, das quatro músicas cantadas por Violet Mary no segundo álbum, duas tinham feito muito sucesso, Mary que era quase dez centímetros mais baixa que Magnetic embora pintasse o cabelo com cores escuras, secretamente nutria o desejo de conquistar o espaço da vocalista no futuro da banda, enquanto Trama fazia a cabeça do restante do grupo para se desvencilharem de Max e Vera, Mary tentava convencer Trama à respeito dos seus dotes como cantora, embora estivesse certa de que Mary fosse uma grande cantora e compositora, Trama não tinha tanta certeza de que elas fariam tanto sucesso e venderiam tantas músicas se Magnetic não estivesse à frente do grupo, elevada agora, incontestavelmente à posição de líder das SUGAR SPUN SISTERS, Trama era quem falava com a imprensa. Nos bastidores Max e Vera travavam uma batalha pelo controle da SATURN, com apenas dezenove anos de idade Jaw Rocks não representava perigo, Troper Tracy continuava fazendo sua fama através dos jornais sensacionalistas, Mary estava à espreita apenas esperando sua hora de agir e Magnetic se afastara definitivamente do restante do grupo. Enquanto excursionavam divulgando o segundo álbum, Trama percebeu que ainda era cedo para se desfazerem dos serviços da SATURN, por isso ela combinou com Tracy e Rocks uma reaproximação de Max, a intenção agora era enfraquecer Vera e consequentemente atingir Magnetic. Todas jantaram juntas na companhia de Max, com exceção de Vera e Magnetic, nessa ocasião Max recebeu o apoio verbal de Mary, todas estavam dispostas a ajudá-lo agora.
Desde a gravação do segundo álbum que Magnetic não estava satisfeita com os rumos da banda, especialmente com Eva Trama, ela não se conformava de que a recém contratada guitarrista Violet Mary cantasse quatro músicas do disco. Profundamente magoada com Vera, Magnetic havia desabafado com Tracy que logo telefonou para Trama contando toda a estória, as coisas estavam caminhando conforme Eva planejara. Até o final de dezembro, quando encerraram as datas da nova tournê, Vera perdera o apoio tanto de Mary quanto de Magnetic, em segredo elas haviam feito um acordo com Max, dando-lhe total direito sobre suas carreiras nos lançamentos do ano seguinte. Para isso, uma nova empresa fora aberta, tendo Max Vax como único responsável, Magnetic, Trama, Mary, Rocks e Tracy assinaram um pré-contrato, porém o nome MIZ MAGNETIC AND THE SUGAR SPUN SISTERS tinha registro da SATURN na qual Vera detinha 50% dos direitos, obviamente que foi de Trama a sugestão de manterem apenas o SUGAR SPUN SISTERS como nome do grupo, Magnetic não gostou da idéia de ver o seu nome de fora, mas concordou que todas contribuíam nas canções e que as SUGAR SPUN SISTERS não era apenas uma banda de apoio. Com o aval das outras quatro e a palavra final de Max, Magnetic agora afastada de Vera perdera a liderança dentro de grupo, como compensação, foi-lhe oferecido uma quantia maior no que fosse arrecadado com as vendas do terceiro álbum. No final de 107 d.a.c as cinco integrantes da banda estavam aparentemente unidas e logo as gravações de um terceiro álbum teriam inicio sem que Vera ficasse sabendo.