segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

TATIANA E LUIZ

Tatiana tinha cinco anos quando viu na televisão um programa que contava a estória de um menino que mesmo depois de perder os dois braços num ataque de tubarão, tinha conseguido vencer a maratona mirim no ano anterior. A menina que tinha acabado de aprender a andar de bicicleta, e cuja saúde perfeita jamais fora explorada para seu benefício, decidiu que era hora de fazer seu sucesso.

Aos quinze anos, Tatiana era tricampeã da volta de Paris e tetracampeã da maratona ciclística de Xangai.
Infelizmente, uma fatalidade terrível acabou com o sucesso da menina sobre duas rodas, quando um caminhão basculante prensou sua perna contra a mureta central de uma avenida. Tatiana ainda tentou pedalar com uma prótese, mas não conseguia chegar entre os primeiros lugares, esquecida logo depois pelo grande público que não via mais motivos para aplaudir seus feitos contidos, ainda que lhe faltasse uma perna.

Começou a participar de corridas de saco, nessa modalidade as chances de vitória eram grandes e quase sempre acontecia da menina chegar em primeiro, a visibilidade e o retorno financeiro não eram bons o suficiente, mesmo assim a vida seguia seu rumo até que um dia, saltando com sua única perna dentro de um saco, Tatiana imediatamente sentiu uma fisgada no calcanhar, acompanhada de uma dor intensa e um leve entorpecimento. Era uma cobra africana, cujo veneno na sua corrente sanguínea, mesmo com o pronto atendimento dos médicos, acabou com inutilizar sua única perna boa que assim como a anterior teve que ser amputada.

Pobre Tatiana teve que encontrar alento numa fazenda produtora de maçãs onde colhia as frutas de uma cadeira de rodas. Foi lá que conheceu e se casou com o rico proprietário do negócio cujo nome era Luiz.
Certa noite, pouco depois da lua de mel, Tatiana e seu marido conversavam sozinhos na mesa do café da manhã:
- Não entendo como pôde gostar tanto de mim – ela disse
- Gostei de você desde a primeira vez em que a vi.
- Mesmo?
- Claro, fiz de tudo para você chegar até aqui.
Então Luiz abriu a carteira e mostrou o documento de um veículo, cuja placa era a mesma do caminhão que tinha arrancado sua perna cinco anos antes.
- Então foi você?
- Fiz por amor.
- E a cobra?
- Também fiz por amor.

Então os dois se uniram num abraço emocionado, e foi nesse instante que os dois braços do homem se soltaram de seu corpo e caíram no chão. Ao ouvir o barulho daqueles plásticos que não mais a seguravam Tatiana ficou surpresa:
- Duas próteses?
- E um tubarão.
Ela o abraçou e ele logo trançou as pernas em volta da sua cadeira de rodas.
Riram alto num tombo inevitável.
E foram felizes, de certa forma.