segunda-feira, 6 de junho de 2011

JULHO

Ficava pensando no vento
Cortando os lábios do tempo
Fissuras de esquecimento
Impedimentos
E ficava nessa de espera
De um ônibus depois o outro
E todas as pessoas que passavam pela rua
Tinham o mesmo rosto
Até então sem suspeitar
Que ônibus nenhum serviria
Olhava para os postes e muros
Exibindo cartazes obscuros
Garras de tigre projetadas das trevas
Fachos florescentes como olhos
Sorrisos de vampiro
Toda a periferia paulista ali reunida
E faróis que acenavam como velas
Que velas derretidas eram aquelas
Desintegrando os mistérios dessa vida
Deixando tão poucos silêncios desencontrados
Por saber que nada ali mais serviria
E que ela também não viria
E não viria nunca em outro dia
E que o vento decerto cortava os teus lábios
E que os meus por hora mergulhavam entre postes e muros...