sábado, 18 de setembro de 2010

LIQUIDIFICADORES

o som da voz humana percorrendo milhares de quilômetros de praias vazias
o som da voz humana como sinos despencando
como desastres aéreos
paisagens apocalípticas
campainhas
violinos desafinados
pingüins com alto-falantes
o som da voz humana devastando tudo
invadindo frestas e perfurando travesseiros
como raios de sol mortífero
como gás tóxico
carbono
arquétipos de guerras vazias
o som da voz humana acionando todas as comportas
a bomba
a música dentro de uma caixa
a razão destrambelhada
carros engripados numa auto-estrada
o animal abatido
o som da voz humana desvendando o mundo
em viagens flamejantes
abatendo estrelas numa velocidade absurda
paisagens incineradas
fones de ouvido no volume máximo
máquinas de escrever em escritórios de advocacia
fornos crematórios
telefones ocupados e copos trincando
o som da voz humana como uma visão
o caminhar trágico-desengonçado
a extensão infinita das cercas elétricas
de arame farpado
o arranjo de espinhos
uma coroa
o som da voz humana martelando
cacos de vidro
pregos e vigas
para dentro dos liquidificadores
uma moto-serra
tem o mesmo som da som da voz humana...