terça-feira, 28 de setembro de 2010

NA CIDADE

A espontaneidade esparramada feito grama por paisagens urbanas, como pracinhas esquecidas em finais de ruas nunca antes visitadas, como o fio do sorriso que falta a toda servidão humana impregnada de um medo estúpido de sair da linha despencando em vertigens asfaltadas. É O ônibus lotado acelerando com pneus mergulhados em poças de lama que se formaram com a chuva e executivos televisionados por helicópteros em cima das pontes pedindo ajuda. O congestionamento e a infinita soma das possibilidades de declínio absoluto, a risada gripal do ultimo, a fila dos desacordados pontualmente as 5.
A espontaneidade esparramada feito grama por paisagens urbanas. O dedo que aciona o botão que aciona as comportas que aciona as camas. A flor morta dentro de um copo com água e o besouro a voar em círculos pela janela fechada. Na forma inexata de nuvens esfumaçadas e no fundo da cabeça um grilo, o cantar elétrico ininterrupto por estradas de 110 volts numa odisséia mental que é a televisão vomitando a imagem do papa bem no meio do tapete da sala inundada por pequenos terremotos caseiros em forma do Diálogo. Blind Lemon Jefferson, Son House e Lonnie Johnson
A espontaneidade esparramada feito grama por paisagens urbanas, seja pelo tijolo, seja pelo concreto avança cada homem dentro de sua própria guerra, e toda aquela história ensolarada a respeito dos potes de margarina não passava de mentira, uma lenda urbana qualquer sobre a construção parcelada da vida, dez vezes sem juros no cartão de crédito com 0% de entrada, toda a velha ladainha, baldes com 5 litros do que quer que seja, homens uniformizados que se levantam rasgando elogios confusos para passagens bíblicas que deveriam ter sido decoradas no inferno, na Terra do Fogo ou na Sibéria, mas nunca perto daqui.
A espontaneidade esparramada feito grama por paisagens urbanas como brindes de final de ano: um chaveiro sem chave nenhuma, um calendário cheio de dias de semana e canecas completamente ocadas, como o sorriso para a foto ou ampulhetas que foram todas corrompidas por esse zumbido de além-vida quando a única urgência possível é agora e que amanhã é nada além de febre. Já faz tempo que não temos muito tempo a perder com tudo isso, com todos esses caras estranhos, tamanhos diferentes e caminhos distorcidos pelo acelerar da utopia, cegos guiando cegos e carros em direção à gondolas cheias de roupas e crianças escondidas, um som qualquer para ser aumentado em dias para serem vividos. Tantas bocas à espera de beijo e tantas praças ainda vazias refletidas pelo retrovisor da mente no meio de certas curvas intempestivas disso que tanto nega tudo o que vale a pena.