quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O PAÍS QUE NÃO DEU CERTO

Quando Klaus e Diamante ocuparam uma plataforma petrolífera abandonada bem no meio do oceano Indico em agosto de 1993 e decidiram que ali iriam fundar um país, com base no argumento de que a plataforma, uma antiga construção que pertencera a uma refinaria australiana recém-falida, estava localizada em águas internacionais, eles não imaginavam que encontrariam tantos problemas.
Klaus logo voltou no seu pequeno barco a remo para as Ilhas Comores, onde quatro criados nativos o aguardavam na praia. Enquanto isso Diamante colocava ordem na casa, lavando a areando os quatro imensos pilares. Quatro noites depois Klaus estava de volta, na manhã seguinte um dos criados soprou uma corneta – era a fundação do novo país que acontecia.
Klaus era o supremo presidente e Diamante a primeira dama. Os quatro criados eram o povo e agora só precisavam de uma igreja.
Klaus remou novamente, dessa vez até uma praia qualquer da Indonésia e de lá telefonou para o Vaticano, duas semanas depois uma comitiva chegou à plataforma, mas não encontrando nada que fosse de seu interesse, partiram em menos de cinco minutos – Pro inferno esses filhos da puta – esbravejou o supremo presidente.
Mas as notícias ruins não paravam por ai, as estruturas da plataforma estavam completamente condenadas, de forma que balançavam de um lado para o outro quando o vento soprava – Precisamos dar um jeito nisso – Klaus estava descendo por uma escadinha enferrujada na lateral da plataforma com uma lata de cola na boca.
Na semana seguinte um dos criados fugiu no meio da madrugada levando o barco e deixando os cinco habitantes do país entregues à própria sorte – Ainda falta um nome – disse Diamante, referindo-se ao nome do novo país que ainda não havia sido escolhido – Vamos fazer uma votação – disse Klaus e todos escolheram seus nomes preferidos, como cada pessoa havia escolhido um nome diferente, houve um empate técnico acompanhado de certo silêncio – Nesse caso então eu escolho – a primeira dama falou, declarando em seguida que o nome seria Diamante – Isso irá atrair os saqueadores – Klaus tinha dado a sua opinião, enquanto os três criados timidamente acompanhavam de longe a discussão.
Uma rajada mais forte de vento fez a plataforma balançar tanto e o rangido foi tão alto que todos tiveram medo de que aquilo pudesse ceder – Nesse caso, precisamos de armas – Diamante parecia mais animada – Um exército, talvez – falou entre dentes um Klaus bastante pensativo – Mais empregados, mais gente do povo, funcionários para o governo – continuou – A morte do fugitivo – bradou Diamante – Investimentos – e quando disse isso Klaus olhou para a primeira dama que parecendo positivamente surpresa com a idéia perguntou – Investimentos? – Investimentos, fundos de algum banco norte-americano ou japonês.
Lady parecia bastante satisfeita com essas palavras finais do supremo presidente que agora, agachado, rabiscava no chão uma extensa lista com nomes de bancos, armas e jóias.
O vento soprou mais forte, a plataforma balançou e balançou – um rangido alto, acompanhado de gritos histéricos.
Até que tudo fosse deixado para trás.