O SONO DE INGRID
Ingrid dormia seu sono profundo
Um sono de anjo a muito estendido
Deitada na cama, aos poucos partia
Ninguém duvidava, Ingrid dormia
Tinha o ar sereno, de noite bem dormida
Rosto de porcelana, Ingrid sorria
Do andar de baixo a mãe sussurrava
Aos ouvidos do filho que barulho fazia
Mas anjos vindos de abismos escuros
Sentaram-se ao pé da sua cama
Ingrid dormia como dorme o oceano em noite fria
Era forte o vento, chovia
No branco do seu rosto foi tecendo em seu lugar
O verde limo das pedras que repousam em alto mar
Seu ar que sereno já fora um dia
Um dia já fora, mas agora partira
Ingrid dormia seu sono de vinte dias
Quando seus olhos mergulharam
Na beleza da face que a muita jazia
Ingrid não mais sorria
E do cheiro pútrido que sentira
A criada que acreditava que Ingrid dormia
Milhares de pequenos vermes como lombrigas assanhadas
Na barriga do seu lindo corpo cobrira
Mas Ingrid dormia
Dorme Ingrid. Cantou-lhe o pai
Dorme Ingrid. Cantou-lhe a mãe
Dorme Ingrid. Minha filha
E Ingrid dormia
Na cama vazia.