Certo dia, cansado de toda a estupidez gratuita, o filho de Deus desceu na terra pela segunda vez para pedir uma trégua aos monstros vorazes que sadicamente torturavam e matavam todas as criaturas puras.
Sentindo-se tremendamente impotente ante a enorme desgraça que seu pai criara, convertendo-se numa besta perdida, o filho de Deus procurou ajuda psiquiátrica, mas os médicos nunca tiveram a cura.
Cambaleou bêbado entre centenas de desabrigados, enfrentou tormentas e hostilidades até que foi acolhido por dois chineses que o obrigaram a trabalhar 20 horas por dia a troco de nada.
Fugiu disfarçado de peixe, dentro de um prato de comida estragada que escorria pelo cano numa tarde de domingo. Encontrou mais hombridade nos ratos e nas baratas do que nos homens e teve a companhia dos vermes enquanto eram servidos banquetes com as carnes apodrecidas que escorriam lá de cima.
Numa tarde qualquer Jesus Peixe nadou até o rio de merda e foi percorrendo esse rio que chegou até o mar onde foi morto por pescadores japoneses com uma lança que perfurou o olho e o fígado divino.
Silêncio.
Hordas de japonesinhos amontoados em volta de um tatame devoram a carne morta agora. Um deles encara por um minuto a cabeça de peixe exposta, olhinhos inertes piscam para ele como se quisessem confidenciar um segredo. Mas agora é tarde, um garfo ocidental remexe o pequeno cérebro danificando todo o arquivamento das memórias e idéias divinas.