Os prédios são como pessoas, cara. Eles conversam entre eles num nível de linguagem que não temos a capacidade de entender. Eles são maiores e mais fortes que a gente, são mais espertos até. Assim também são os carros, ágeis e velozes, somos apenas espécies de espíritos dentro dos carros, mas eles não ligam para essas coisas místicas, muitos nem sequer acreditam na nossa existência, pensam que andam e param quando bem entendem, no girar de seus motores é onde mora a razão – não existe nada além da máquina. Somos supérfluos e quase sempre invisíveis. Pensamos que buzinamos, bradamos e aceleramos rumos aos nossos destinos de sempre, mas lá do alto os prédios enxergam tudo e envergonhados cochicham entre si:
– Quão estúpida é essa gentinha que anda a toa lá embaixo, agitam-se feito loucos para nada
– Nem me fale – o prédio do lado responde ao que um menor acrescenta: – Dizem que são dirigidas por estranhas entidades, as mesmas que habitam nossas entranhas.
- Não acredito nessas bobagens.
- Não sejamos demasiadamente tolos.
- Minhas entranhas estão cheias de verme.
- Vamos todos ruir um dia.
- Qual o seu signo solar?
E continuam suas conversas ininterruptas, sobre assuntos tão variados quanto superficiais, entrecortados apenas quando algum prédio metido a engraçadinho ri, desdenhando os automóveis tão pequenos lá embaixo.