Holdel Sleepfield dormia numa cama de ferro, herdada do exército americano uma década antes, era uma cama pequena como todas as outras do colégio. No final da segunda grande guerra milhares desses objetos pertencentes às forças armadas tornaram-se obsoletos de uma hora para outra e as universidades eram uma forma de reciclagem pós-guerra, empregando utilidade para todas as coisas que não eram necessariamente sucata – dessa maneira, camas, armários, pensamentos e até máquinas de escrever eram reaproveitados. Holden Sleepfield suspeitara disso durante todo o tempo anterior a essa estória, e agora, tinha certeza absoluta de que nenhuma ação era construtiva na sua essência, a única saída para o mundo era o sono, mas não esse sono em que dormimos durante determinado período e despertamos pouco tempo depois, esse tipo de sono era inútil e para pessoas assim, o fracasso e a decepção eram certas.
Virou o corpo para o lado da parede, abriu os olhos lentamente, como se evitasse encarar as vigas de compensado cinza que maquiavam o seu quarto com as cores da monotonia. Bocejou duas vezes e voltou a fechar os olhos, nem bem olhou para o relógio pendurado na parede oposta de onde ficava sua pequena cama verde oliva, não reparou que passavam das dez horas da manhã, que todos os outros alunos já estavam dentro das salas de aula ouvindo instruções de como ganhar o jogo – a verdade era que Holden Sleepfield completara 48 horas seguidas de um sono que se prolongava numa intensidade absurda e nem mesmo quando o reitor parou em frente a sua porta, com seus pés de chumbo e sua boca velha e contorcida, olhado para Holden com aquela sua cara amassada de reprovação e excesso de comprimidos reguladores dos níveis de acido úrico e sérios problemas intestinais.
Holden Sleepfield foi despertado ainda no colégio, expulso e enviado para as ruas cambaleantes e gélidas de um inverno eterno. Perdido no meio da multidão enfurecida, atordoada por um sono falso, embora acreditassem que estivessem de fato, acordados para a vida, dedos de reprovação que apontavam seu rosto adolescente e bocejante. Encontrou refugio no banheiro de um museu onde alguém, pouco antes, escrevera com letras grandes de forma: ACORDE-SE! Dormiu um pouco, ali mesmo, e teve um sonho curto com a irmã, que talvez por ser ainda uma criança, era a única pessoa próxima realmente desperta que ele conhecia. Mas era tarde, ele não era mais uma criança, impossível tentar despertar agora. Pensou. E voltou a baixar a cabeça entre os braços.