sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

UM ESTRANHO INCIDENTE EM GUEDALA

Ah.... Esqueci que era carnaval, época de uma felicidade quase acachapante, mesmo assim havia um intruso entre nós, eu e 92 desconfiávamos que fosse alguém do Setor Azul, seja lá que merda for que represente esse papo todo de Setor Azul e 92 pra você, inocente leitor dessa estória paradisiacamente festiva (mencionei que se passa na época dos desfiles e fantasias, portanto não perturbem meu pobre cérebro cambaleante) entonces, voltando a Estória: sabíamos que tinha um filho da puta, talvez dois ou mais, portanto fizemos o cerco: uma reuniãozinha comemorativa depois do expediente com os trabalhadores da Fábrica Dezoito, éramos nove ao todo, reunidos envolta de uma enorme mesa de mogno em forma de barata (e com cheiro de barata) eu tava bêbado e drogado e pouco me fudendo e o 92 também por isso partimos logo para os finalmente: - Queremos esclarecer umas coisas – eu disse primeiro, nisso o 147 pigarreou e um outro (980 se não me engano) amaldiçoou algum inseto venenoso que entrara pela janela semi-aberta da nossa Embarcação Amazônica. – Algum cretino anda roubando fios de cobre – 92 disse. E todos nos entreolhamos com um punhado de culpa em nossos olhos cheios de imagens frescas de sangue e grunhidos de animais recém extintos. Deixa eu esclarecer uma coisa, afinal isso não pretende ir muito longe: estávamos numa espécie de empreitada em busca de resquícios de arvores e intestinos de animais semi-mortos. Éramos todos ingleses e nossos nomes soavam algo como John, Jack e Jimi, só para ficar no J. O que vocês hoje conhecem como pátria ou nação eram palavras tão ultrapassadas quanto aspiradores de pó ou naftalina. Estávamos trocando matérias primas, vestidos com nossas camisas impecavelmente brancasrespingadasdesangue, por cocaína vinda diretamente das montanhas da América do Sul. – Suspeitamos que seja um de nós – eu disse tentando não olhar diretamente para ninguém, embora eu soubesse desde o início. Foi quando o Sumo Sacerdote levantou-se da cadeira número 17 que ocupava e num gesto brusco tirou de baixo de sua bata horrenda um monstruoso cadáver de um bicho nunca antes encontrado ou mesmo catalogado. – São eles – ele disse, estendendo aquele monte de carne branca e sangue e intestino pela mesa onde o 113 sabiamente tinha preparado umas fileiras das boas, minutos antes. – Ei – eu disse, só pra efeito de conto – Filho da puta – alguém disse – Manchou nossa farinha – e todos caímos de pau no Sumo Sacerdote como se fossemos holligans e de fato éramos alguma coisa bem próxima, com a notável diferença de usarmos terno e andarmos d eum lado para o outro com nossos dicionários Cucaracha / Wasp, debaixo do braço. Resultando: não encontramos o tal ladrãozinho de cobre, na saída chamei o 92 de canto e disse: - Aumenta a voltagem. O que era uma ordem clara para que o próximo roubo fosse penalizado com uma morte instantânea num Aperto de Mão de 5.000 volts, como eu gostava de falar. – Ah sim – eu disse quando o 92 já ia saindo pela porta da Sala de Reunião – Essa palavra na sua testa. – Que palavra? – ele disse – Impostor – eu falei e então dei-lhe um tiro nos miolos e joguei em cima do Sumo Sacerdote que sofregamente vasculhava seus olhos inchados num espelhinho indígena. – Coma as tripas – eu disse – O quê? – o Sumo Sacerdote era surdo. Então: BANG. BANG. BANG. – Ei, seus filhinhos-da-puta – eu disse para os outros que não estavam longe o suficiente – Tratem de abrir bem os olhos – eu disse – OS TRÊS. E foi o fim desse episodio pré-carnavalesco. Na mesma noite peguei um barco que tomaria o Tocantis a caminho da Cidade Maravilhosa.