quinta-feira, 27 de setembro de 2007
A MENINA QUE AMANHECIA
E quando todos estalavam suas almas de meia-noite e sentados em círculos silenciosos colocavam-se a guardar os seus dias dentro de potes plásticos e latas vazias, lá vinha ela com o seu sorriso ensolarado e a sua voz de manhãzinha. E não havia vela ou lamparina que lhe ofuscasse o brilho. Pois ela era a menina que amanhecia. E então todos largavam, por um minuto, os seus sonhos e os seus sonos e emaranhavam pelos jardins dos seus longos cachos onde os galos cantavam e as corujas e os sapos dormiam e lá de dentro do jardim iluminado um frescor leve batia com a intensidade de uma luz recém nascida, que aos noturnos despertava com a suavidade de um sussurro de bom dia.