sexta-feira, 3 de agosto de 2007
O CAMINHO DE CONCEPCIÓN - I
A gente fazia assim, primeiro eu entrava na loja, nisso o Serginho já tinha desparafusado a grelha do ar condicionado que ficava perto do chão, nos fundos. Eu entrava como quem não queria nada e zanzava pelos corredores, o Gustavo vinha e pedia algum tipo de informação para o carinha que arrumava as prateleiras e que era uma espécie de segurança do lugar, enquanto ele tava lá distraído, o Serginho entrava e passava alguma coisa barata pelo caixa, tipo uma barra de chocolate ou uma revista qualquer, então eu apanhava a caixa com as 12 latinhas de cerveja e deslizava pelo buraco da grelha até o lado de fora da loja, nesse dia consegui passar cinco caixas enquanto o Gustavo e o Serginho cuidavam do segurança e da balconista. Depois nos encontrávamos no posto de gasolina ao lado. Enquanto eu dirigia à caminho da casa da Karina, onde a gente tava pensando em rolar uma festinha surpresa com umas meninas, o Gustavo tirou do bolso interno da jaqueta, seis barras de chocolate, o Serginho tinha apanhado umas notas do caixa enquanto a menina virara para o outro lado, esse era outro truque antigo, depois que eu passava as caixas pelo buraco, nos fundos da loja eu ia então até o outro lado, o lado oposto do caixa onde ficavam umas tranqueiras penduradas, uns óculos de sol baratos, bronzeadores, a típica parafernália para banhistas, derrubava alguma coisa no chão, alguma coisa que fizesse barulho, e o Serginho metia a mão em todo o dinheiro que conseguisse, no tempo em que a menina do caixa virava a cabeça para o outro lado. Contabilizamos o lucro: 60 latas de cerveja, o suficiente para uma tarde inteira de sol. Chocolate para agradar as meninas e dinheiro que dava para encher o tanque do carro e ainda apanhar a mercadoria com o Boliviano. Aceleramos em direção ao norte, no caminho ficava uma fazenda com uns pés de milho, paramos, o Serginho foi na frente, o lugar era todo cercado, tinha umas câmeras espalhadas, conhecíamos, porém, a parte mais afastada de onde ficavam os seguranças. O Serginho ia na frente com um saco de pano em cada mão, o Gustavo correu até determinada parte da cerca e cortou com um alicate, acelerei o carro outra vez, pela estradinha de terra, quando encostei, colocaram os dois sacos cheios de espigas de milho no porta-malas, entraram correndo. Ouvimos latidos de cachorro e o alarme que os seguranças ativavam toda vez que nós os saqueávamos. Pegamos novamente a estrada. Passamos na casa do Boliviano, e pra variar, ele não estava. A menina que atendeu a gente devia ter uns 12 ou 13 anos no máximo, nos contou qual era o bar que ele andava freqüentando, fomos até lá, quero dizer, eu e o Serginho, o Gustavo ficou com a menina e uma garrafa de uísque paraguaio. Chegamos no bar e encontramos uma velha que devia ser a dona do lugar, nada do Boliviano, em compensação umas menininhas vieram puxar conversa com a gente, tinha uns quartos no fundo, a velha queria que eu fosse para lá com duas das meninas, escolhi três, paguei adiantado. Enquanto o Serginho emborcava todo o estoque de vinho do bar, uma menina veio e se sentou no seu colo. Dois sujeitos mal encarados jogavam sinuca. Entrei em um daqueles quartos dos fundos, eram bem arrumados e limpos, de lá era possível ouvir a música que tocava no rádio, música brega-sertaneja, também dava para ouvir a menina rindo alto enquanto o Serginho contava umas piadas sem graça, ouvia o barulho dos tacos, dos copos. Tirei a camisa e deitei de costas na cama, as três meninas deitaram comigo, passávamos uma garrafa de uísque de mão em mão. Pensei no Gustavo, no Boliviano, na Karina, nas amigas da Karina. Ah, grande merda. Nem bem anoitecia, ainda. Coloquei a mão debaixo do vestido de uma das meninas. Era melhor do que eu pensava.