quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

SE REGININHA AO MENOS SUSPEITASSE

- Bom dia. Gostaria de falar com a secretária do presidente!
- Qual o seu nome?
- Diga a ela que é o Senhor Presidente quem fala!
- Senhor Presidente?
- Exato!
- Um momento!
...
...
- Alô, Gláucia? O Senhor Presidente está aqui na recepção, pode atendê-lo agora?
...
...
- Ela disse que está muito ocupada e perguntou se pode ser por telefone mesmo?
- Passa esse telefone pra cá!
- Alô, Gláucia? Gláucia, meu amor. Eu te amo!
( - Mas, Senhor Presidente, o Senhor é apenas um fantoche!)
- Ao menos o amor é verdadeiro!
( - Podemos falar mais tarde? Estou no meio de uma reunião importantíssima!)
- De que tratam?
( - De tratados!)
- Tratados de paz?
( - Não, de Tordesilhas!)
- Diz que me ama!
( - Vou desligar!)
- Anda, diz que me ama!
( - Já avisei que vou desligar!)
- Diz que...que...
...
...
- Secretarinha duma figa, desligou na minha cara!
- Ihihihihihi, aceita um café, Senhor Presidente?
ele responde afirmativamente com a cabeça
- Açúcar ou adoçante?
- Duas pedras de gelo, por favor!
- Aqui está, Senhor Presidente, com as pedras de gelo e tudo!
- Qual o seu nome, menina?
- Marcinha e o seu?
- Lindo nome, eu me chamo Senhor Presidente!
- Fico lisonjeada pelas palavras. O senhor é muito gentil, Senhor Presidente!
- Que tal subirmos a rampa?
- A ra-rampa d-do planalto?
- Onde mais?

de mãos dadas os dois pombinhos cruzam o gramado em direção à rampa

- Ehehehehehehééé, Senhor Presidente?
- O quê é agora?
- Sabe, Senhor Presidente, o senhor é tão, assim, como eu posso dizer, ai, peraí, o senhor é tão, tão...
- Tão?
- Tão generoso, Senhor Presidente!
- Ah, minha cara Regininha, se você ao menos suspeitasse!
- Marcinha, presidente, Marcinha!

Ignorados pelos soldados que permanecem estáticos na entrada do Planalto, eles desaparecem em duas silhuetas apagadas misturadas à imensidão crepuscular que paira a incontáveis anos, naquele mesmo lugar.