quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A POLÍCIA DA KRAKÓVIA

Havia uma praça, uma praça praticamente esquecida, abandonada pelas crianças e adotada pelos viciados da cidade. Nessa noite, dois deles dividiam uma mesma agulha, ocupavam um velho banco de concreto, tomado pelo mato e pelas pichações suburbanas.
Dois soldados iniciantes, dispostos a mostrar serviço para o sargento, batiam com seus cassetetes na palma da mão, a viatura parada, o sargento tranquilamente fumava e os dois soldados à espreita, atrás de um arbusto descuidado que crescera além da conta, encobrindo toda a velha quadra de basquete.
Um dos viciados caminha até a rua e vira na direção da viatura, os dois soldados fecham a passagem, o sujeito para e encara um deles, enquanto o outro, desfecha um golpe de cassetete em sua têmpora cadavérica, ele tomba, sem resistência nenhuma, cai feito um boneco de Judas, e os dois policiais, certificando-se de que o sargento tudo observava, começam a desferir golpes no pobre homem que jaz caído. São tantas pancadas e chutes, que os ossos de sua face acabam completamente moídos e o cérebro escorre pelo nariz.
Os policiais então saem para uma ronda em outro canto do bairro.
Na manhã seguinte um caminhão da prefeitura retira o corpo do morto. Briga de gangues termina em tragédia, é a notícia veiculada pelos meios de comunicação.
Uma equipe de assistentes sociais aparece e distribui um novo estoque de seringas para os viciados que ocupam permanentemente a praça. Enquanto, não muito longe dali, dois soldados iniciantes, acompanhados por um sargento cujo rosto mais parece um grotesco escarro, entram numa lanchonete e gentilmente pedem três tortas de qualquer-coisa-que-tiver, para o cara atrás do balcão. Eles observam atentamente as marcas no braço do sujeito. Quando esse retorna com os pedaços de torta, entreolham-se e sorriem uns para os outros.
Menos um, mais um.
Assim é a polícia da Krakóvia.