sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O CORRETOR CICLOPE

Outro dia, numa ensolarada manhã de domingo, eu e minha menininha passeávamos de carro por um bairro arborizado, desses cheios de conjuntos residenciais novinhos em folha com placas de vende-se a perder de vista. De fato era um dia muito bonito – Ei amorzinho, o que você acha de comprarmos um cantinho assim para a gente? – ela perguntou candidamente – Ok, minha florzinha, vamos nessa então – estacionei o carro em frente ao prédio, era um modelo simpático, de modo que ficamos meio apreensivos, encantados e tal – SAIAM JÁ DA MINHA PROPRIEDADE – disse uma voz muito grave. Ela vinha da direção da sala que servia de plantão de vendas. Nisso aparece o gigante ciclope furioso, bradando novamente – SAIAM, SEUS IMUNDOS – e nem tivemos tempo de correr até o nosso modesto carro. Ele nos apanhou e chutou nossos traseiros com tanta força que viemos parar do lado de cá do viaduto – Isso não vai ficar assim – eu disse para a minha lindinha e muito bem disposto, levantei e segui a pé o caminho que nos separava daquelas ruazinhas arborizadas, seguido pelo meu amor – Ei, seu gigante ciclope de merda, olha só o que eu tenho para você – e atirei um peixe morto na sua direção. Como diz a lenda, certos corretores são extremamente alérgicos a carne de peixe, principalmente se o peixe morreu em águas muito poluídas. Dito e feito, o tal corretor desintegrou-se no momento exato em que entravamos no carro, seguimos novamente pelas ruas arborizadas do bairro residencial, fugindo da imensa nuvem de pó em que se transformara aquela imensa massa ciclope, dobramos a direita e novamente as placas de vende-se a perder de vista – Ei, amorzinho, o que você acha de comprarmos um cantinho desses?