segunda-feira, 17 de março de 2008
VISHNARAIANDA E O COMEÇO DE TUDO
Era uma vez um coelho, um coelho muito engraçado e inteligente. E que, ainda por cima, usava chapéu de coco e gravata borboleta vermelha, só pra tirar onda – como ele costumava dizer. Um dia, esse coelho, que na verdade se chamava Vishnaraianda, pois era um coelho indiano, com oito braços e tudo, encontrou Ganesha (o menino com cabeça de elefante), às margens do silencioso Ganges. Ganesha tava todo distraído e chapado, revirando alguma coisa com um taco de golfe. Vishnaraianda, que além de ser um coelho muito engraçado e inteligente, era também muito curioso, foi perguntar para o seu amigo o que diabos ele fazia com um taco de golfe às margens do rio sagrado. – Rebatendo dedos – foi a resposta de Ganesha – Rebatendo dedos? – como assim? Vishnaraianda pensou, afinal de contas, aquela era, de fato, uma resposta muitíssimo estranha. De repente, ele viu Jesus passando do outro lado do Ganges, onde a água batia pouco abaixo do joelho, e para seu espanto, Jesus também carregava um taco de golfe. Vishnaraianda, que além de ser um coelho muito engraçado e inteligente, era também um ótimo nadador, atravessou o imenso rio e chegando bem perto de Jesus, fez a mesma pergunta que fizera minutos antes para Ganesha, que diabos fazia ele ali no Ganges com um taco de golfe? – Rebatendo orelhas – foi a resposta de Jesus e Vishnaraianda não entendeu mais nada. Subiu as margens, acompanhando umas imensas mulheres americanas e chegando bem perto de uma escadaria, avistou Moisés, lá no alto, no último degrau. – Moisés, Moisés – ele correu para contar – Você não sabe o que eu acabei de ver lá embaixo – mas Moisés nem deu bola para o nosso amiguinho, ao invés disso, desceu a escadaria até as margens do rio e perguntado por Vishnaraianda para onde ele tava indo, respondeu: - Vou logo ali adiante, rebater arcadas dentárias – Vishnaraianda ficou ainda mais confuso, quando Moisés tirou de dentro de uma valise um taco de golfe que brilhava, novinho em folha e com ele começou a remexer alguma coisa que lá do alto ele não conseguia identificar o que era. – Meu filho – ecoou uma voz vinda lá do alto, Vishnaraianda conhecia bem essa voz, era a voz de Deus, o Pai de todas as coisas, um velho barbudo e grisalho, muito bonzinho, que morava logo acima das nuvens, cercado por anjos e etc. Olhou para o alto, para a direção de onde vinha aquela voz e então viu Deus acenando de uma nuvem pequenina em forma de balão – Meu filho – Deus disse outra vez e continuou – Vejam só o que esses putos andam fazendo agora, quero dizer, não me refiro ao meu filho Jesus, muito menos a Moisés, com quem já tomei chá, vinho e cerveja, nem àquele seu amigo com cabeça de elefante, me refiro a eles – e apontou na direção de um forno crematório na saída do cemitério local. Perguntando por Vishnaraianda, o que andava acontecendo no forno crematório, Deus contou-lhe toda a história: na verdade, sempre fora um costume milenar, principalmente entre o povo indiano, atirar as cinzas de pessoas mortas dentro do rio, como uma forma de elevação espiritual do morto, acontece que, uma equipe, aparentemente muito preguiçosa e econômica andava queimando corpos pela metade e atirando o que quer que restasse deles, dentro do rio sagrado. Então, Vishnaraianda, que além de ser um coelho muito engraçado e inteligente era também muito furioso, subiu a estradinha de terra que levava até o forno crematório municipal, e a pedido de Deus, atirou toda a lenha que encontrou dentro do forno, cujo fogo crepitava, cremando os corpos de todos os novos mortos. Com a ajuda de anjos vindos das nuvens, expulsou os antigos donos do local e logo Ganesha desistiu do seu bizarro jogo de golfe / baseball para abraçar toda a glória e devoção que somente a um Deus Hindu é conferida. Jesus e Moisés pegaram o mesmo vôo para o oriente médio, na manhã seguinte, onde viraram lenda e mudaram a estória do mundo, mas o que ninguém sabe, o que não se registra em livro algum do mundo é que Vishnaraianda, o coelho do forno crematório, estava por trás de tudo isso.