Passou no bar, comprou um maço de cigarros e uma caixa de fósforos, foi até a banca de jornal e comprou uma revista de palavras cruzadas. Vinha andando pela rua, quando de repente caiu dentro de um poço. Era um poço seco e escuro, bem fundo, mas aos poucos foi se acostumando. Tirou a capa da revista e fez uma fogueira com uns gravetos que encontrou por lá. Acendeu um cigarro e ficou a preencher a revista de palavras cruzadas com a caneta que trazia no bolso da camisa. Depois, quando a fogueira já tava quase apagando, bateu o sono. Dormiu um pouco. Quando acordou, descobriu uma mina em um canto do poço, lavou as mãos, bebeu água, molhou o rosto. Fez amizade com um sapo e com um grilo que moravam lá embaixo. Arrancou umas páginas da revista e fez outra fogueira. Acendeu outro cigarro e continuou preenchendo as palavras que faltavam. Engraçado – pensou – não sentia saudade nem vontade de voltar para o mundo lá em cima. O sapo e o grilo eram agora seus amigos, conversava e jogava palitinho o dia todo. Certo dia percebeu que havia uma escada de madeira, uma escada que levava até a saída do poço. Era um presente que seus dois amigos tinham construído para que ele pudesse subir novamente à civilização. Cogitou a possibilidade de abandonar sua nova casa, seus novos amigos, pensando bem, até que a vida lá em cima não era tão ruim assim, começou a fazer planos, iria fechar aquele poço para que outras pessoas não caíssem dentro dele, levaria o sapo e o grilo para a fábrica onde trabalhava, seriam seus companheiros de profissão, torneiros mecânicos como ele, às sextas-feiras tomariam cachaça no bar, contariam piadas e fariam apostas bobas.
No dia seguinte, com lágrimas nos olhos e barba de dez dias, despediu-se dos amigos e subiu, prometendo-lhes antes disso, arrumar-lhes emprego na fábrica, o que os deixaram extremamente agradecidos e felizes.
Chegando lá no alto outra vez deparou-se com um padre fantasiado de policial. O padre tentou apanha-lo com um laço, errou por pouco. Virou a esquina correndo e lá vinha o padre-policial atrás dele, jogou o laço nele novamente, quase. Quando completou uma volta inteira na quadra, o homem que tinha saído de dentro do poço pegou um paralelepípedo e acertou na testa do padre, o paralelepípedo ricocheteou e ainda acertou o queixo do governador, ambos caíram desmaiados.
O homem então correu e pulou para dentro do poço outra vez.
Lá embaixo, antes de acender o último cigarro daquele maço que comprara antes de cair no poço pela primeira vez, explicou para o sapo e para o grilo o motivo do seu retorno: - Crianças, o mundo é um lugar horrível - falou, e todos concordaram.
Moral da História: não faça muitos planos, nem filhos.