Até o dia em que descobriram nosso truque, chegamos na loja por volta das nove da manhã. Só a menina do caixa tava por lá e tinham colocado um reforço na grelha de alumínio do ar condicionado, de modo que era quase impossível desparafusa-la, também tinham instalado duas câmeras, uma nos fundos, virada para o canto onde ficavam as cervejas e a outra filmando o caixa e a saída. Olhei para o Gustavo que decepcionado já ia enfiando uma barra de chocolate dentro do bolso, ficamos por ali um tempo, pegamos umas batatas fritas, pagamos e lá fora bem do lado da grelha, o Serginho nos esperava. – Esquece cara. Colocaram uns rebites nessa merda – eu disse – E como vamos levar as cervejas na casa do Neguinho? Eu e o Gustavo já tínhamos feito o nosso plano lá dentro da loja, o Neguinho trabalhava com instalação de telefone, fazia todo tipo de serviço incluindo trocas e consertos, sabíamos que era ele quem atendia aquela região.
Antes que eu explicasse para o Serginho o Gustavo tirou de dentro do bolso, junto com duas barras de chocolate, o miolo do telefone, tinha um dentro da loja e a gente tinha arrancando o miolo, aproveitando, claro, que ele ficava fora do alcance das duas câmeras. Resolvemos incluir a Sandrinha no nosso plano, a Sandrinha era uma puta que dava à troco de cartão telefônico com 50 unidades, tinha uma coleção deles. Obviamente que ela era a pessoa certa para o negócio. Na manhã seguinte, por volta das 11, a Sandrinha informou à menina do caixa que o aparelho telefônico estava com defeito, não demorou nem 40 minutos e lá estava o Neguinho com a mala tentando consertar o aparelho, já tínhamos avisado para ele o local do disjuntor, desligou as câmeras, por precaução, e precisou, evidentemente fazer muito barulho com uma furadeira para arrancar aquele aparelho sem conserto e instalar outro novinho no local. Enquanto ele fazia barulho com a furadeira e estando as duas câmeras da loja de conveniência desligadas, nos ocupamos do carinha que arrumava as prateleiras e que ficava de olho na gente o tempo todo. Claro que o Neguinho iria precisar da ajuda dele em uma hora estrategicamente combinada, afinal de contas alguém tinha que segurar o aparelho novo enquanto ele parafusava. Aproveitamos o barulho da furadeira e abrimos um buraco estreito na grelha, daria pra passar uma latinha de cada vez, se fossemos rápidos conseguiríamos passar algumas dezenas de latas. E lá foi o segurança ajudar o Neguinho, enquanto o Serginho tirava as cervejas das caixas e ia passando pelo buraco que eu e o Gustavo tínhamos aberto. Enquanto instalavam o telefone roubamos umas 70 latas. Depois o Serginho pegou uma revista qualquer, pagou e veio nos encontrar na parte dos fundos do posto de gasolina, saímos logo. – Deu pra pegar alguma coisa do caixa? – o Gustavo perguntou. Então o Serginho tirou 5 notas de 100 de dentro do bolso. Quase não acreditamos. Acelerei mais forte. Alguém aumentou o volume do rádio. Tocava Johnny Cash. Devíamos essa para o Neguinho. Setenta latas de cerveja, dinheiro suficiente para as putas e os remedinhos do Boliviano. Olhei o marcador, o tanque estava cheio. – Um tanque cheio e uma estrada deserta é tudo o que é preciso para uma perfeita manhã de sábado – filosofei – E um miolo de telefone novinho em folha – O Gustavo disse e caímos todos na gargalhada abrindo as primeiras latas daquelas cervejas quentes.